Paraísos devem ser interessantes.
Sempre defendi que nossa essência é aquilo que realmente nos caracteriza e nos especifica. Seu rumo natural é não ser alterada. Se é imprescindível, deve ser permanente, constante. Qualquer variação ameaça destruir a base de todos nossos pensamentos e ações. Aquela velha história do triângulo e do quadrado.
Como explicar a origem de algo que originou a nós mesmos? Uma vez que nossos comportamentos são determinados - há demasiado simplismo aqui, pois não é incomum contradizermos aquilo que somos quando agimos ou falamos - por nossa essência, o que a teria formado? E quando? Nascemos com ela, como algo colocado em nós ou a desenvolvemos conforme temos as primeiras impressões do mundo? Adotar a linha "perguntas sem respostas são respondidas sem perguntar" parece a única solução neste caso, assim como em todos os outros onde ao aplicar uma lógica simples, isto é, "algo que cria tem de ter sido criado por algo mais ancestral" há apenas um vazio sem sentido. Ou se escolhe acreditar ou se acredita escolher.
Ok, como não há resposta, deixemos de lado a questão per si. Vamos às consequências: quem não conhece alguém que a todo momento tenta ser aquilo que não é? O que não tem, deseja ter e, sem conseguir, expele suas frustrações nos que têm e nos que assim como ele também não podem possuir. A mesma tentativa de emulação é realizada com as características, opiniões e hábitos que não compunham sua essência. Alguns levam a vida assim, aplicando perfeitamente o significado da palavra "pessoa" (máscara) em tudo o que fazem; todos nós somos diferentes com todos os outros, é verdade. Mas quando se tenta parecer diferente, certas coisas vão se perdendo. Coisas que deveriam ser permanentes, constantes.
Isto é apenas uma ponderação, nada algo terminado quando finalizado. Para mim esta é a arte, ao menos sua essência. Aquilo que foi feito e terminado como arte, está feito. Não deve ser alterado, corrigido ou censurado. Às vezes é o melhor a se fazer, mas corrigindo as imperfeições, os excessos ou absurdos, elimina-se a característica humana dela. Talvez o resultado prático final seja melhor, mais justo ou mais adequado. Portanto, esse texto ainda não foi terminado. São apenas observações a respeito do que tem ocorrido ultimamente - não é diferente do que usualmente faço, mas neste caso, ainda está tudo tão em desenvolvimento que qualquer tentativa de capturar e aprisionar em palavras é maléfica... Eu tenho expectativas quanto ao paraíso. Obviamente nunca acreditei em nenhum, mas se o inferno pode ser irônico, por que o paraíso não pode ser atingido?
P.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
Anônfalo
É estranho perder um ponto central e tão comum... ao menos ultimamente. Fazia tempo que não o sentia - cheguei mesmo a duvidar de sua presença - mas aos poucos, de uma maneira pouco provável mas muito esperada, um vínculo forte parece voltar a se formar de forma natural, sólida. A força de uma relação está em sua solidez (como suporta as crises) e na transparência (como se chega à resolução das mesmas). Quando somos transparentes, cativamos a confiança que confere tal resistência. Algumas pessoas só conseguem alimentar o amor com essa combinação, pois sabem que ela é a única que pode mantê-lo.
Eis o jeito de sentir-se bem.
P.
Eis o jeito de sentir-se bem.
P.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Sobre a PM na USP
A questão não é se o tom da grama vizinha é mais atraente do que a doméstica. Na verdade é bastante difícil diferenciá-las, vejam bem: era um único grande terreno, desnudo e sem preparo prévio - mas no qual dois vizinhos resolveram apostar. Cada um segura sua parte da cerca, vira as costas e finge que a respectiva metade é um universo singular a ser formado diante de suas próprias perspectivas e sem a interferência do agora, ex-companheiro de negócio. Casa construída, padrões e rotinas estabelecidos.
Mas há algo de atraente na grama ao lado - processo mútuo, pois os dois parecem ser fascinados com o que se ocorre com o solo vizinho. Mais uma vez, não é o fato de superioridade em si - como o jargão popular tenta dizer. É apenas uma atração fofoqueira, que toma não apenas os olhos mas também a boca: superadas as amarras, é questão de tempo até a grama do vizinho se tornar mais importante do que a sua em todas as conversas.
Então vamos lá - toda a imprensa se concentra no caso que absurdamente toma proporções gigantescas em todo o país - os tais drogados que sugam os pais e o Estado para não fazerem nada além de fumar maconha e praticar atos criminosos. Sim, existe uma praga na grama vizinha, todos se concentrem e atirem umas latas vazias dentro da cerca. Foi possível ver pessoas que nem mesmo sabem o que a sigla FFLCH quer dizer protestando por ter seus "impostos" utilizados para a manutenção desses delinquentes - afinal de contas, a USP é mantida pelo país todo e não pelo estado de São Paulo, não é mesmo?
Primeiro ponto: taxar todos os alunos de lá como coniventes com os fatos passados - a invasão e o vandalismo ridículos à reitoria e etc é no mínimo injusto - o termo "coniventes" até pode ter seu uso discutido, uma vez que inegavelmente, eles não impediram a invasão. Mas esta é outra história. A FFLCH tem contribuição inegável para a USP e apoiar a ideia de sua separação com a Universidade é pífia - como representante das Humanidades, sua exclusão resultaria em uma Universidade enfraquecida. Há pessoas lá que realmente estudam, trabalham e se esforçam. E provavelmente é a maioria delas.
Quanto à verdadeira razão desse borburinho todo, a presença da PM dentro do campus, é necessária a filtragem da complexidade de ambos os lados - o que é deixado para trás quando se olha apenas para os argumentos de que "vamos acabar com a festa daqueles maconheiros" (afinal de contas, a PM não foi para lá com esse objetivo) ou então "a PM está lá como braço opressor do Estado que não admite o livre pensamento" (talvez filosoficamente correto, afinal todos sabemos o quão difícil é para alunos que nadam contra a onda ideológica das instituições em que estudam e por mais difícil ainda que seja admitir, "livre pensamento" é uma sentença irreal).
O que deve ser respondido não é se fumar maconha em universidades é correto ou não - a grama do vizinho é interessante, mas talvez nos esqueçamos que esta e as outras drogas são consumidas em todos os gramados de todas as universidades do país e de boa parte do mundo, nos cursos que perpassam as Humanas até as Exatas mais surreais. Ou se a permanência da PM diminui os problemas de violência comumente relatados lá. A pergunta chave é: por que eles estão lá. Ou vão dizer que em algum momento não passou pela cabeça de ninguém que iria acontecer o que houve? Que algum aluno fazendo algo ilegal (moralmente certo ou errado não faz diferença nessa questão, é ilegal e o papel da polícia é o de cumprir a lei) seria repreendido e geraria tudo isso? Era claro. Se a polícia foi uma medida de curto e médio prazo, como foi vinculado, como andam as outras de médio e as de longo prazo? Ou seria mais cômodo deixá-los por lá?
Voltando à questão do gramado: a sociedade se revolta com os alunos da USP pois a imprensa lhe disse que está pagando para manter alunos elitizados que só visam seus interesses próprios e agem fora da lei, como se estivessem acima dela. Mas a sociedade não se mobilizou quando mataram alunos lá dentro. O contra-argumento de que os alunos também não invadiram a reitoria no assassinato é válido. As pessoas só se sensibilizam quando acham que a grama ao lado é mais verde não pelo empenho daquele que a cultiva, mas sim por alguma falcatrua. Deixa de ser merecimento e passa a ser injustiça, o que é inaceitável.
O problema da reitoria, especialmente do reitor também é conhecido e ponto chave de toda discussão. Exigir a integração da Cidade Universitária com a cidade de São Paulo é bastante complicada. As pessoas dizem que mantêm a Universidade e não têm acesso a ela sem ter uma carteirinha ou um cartão. Mas também são as pessoas que mantêm o Judiciário, o Executivo, as autarquias e tantos outros, e em grande parte deles, não entram porque nem mesmo há uma carteirinha. Se tal mecanismo de "segurança" foi implantado, motivo teve. Imaginem os campus universitários totalmente abertos à população, do tamanho que possuem e com a "guarda universitária". Os alunos não aceitariam tal perigo. E com razão.
Basta de ter que ler a respeito da "democracia" do ensino. Nosso ensino universitário é meritocrático como em outras partes do mundo - sim, mais injusto, pois meritocrático em muitos casos no Brasil esconde "censitário", mas de qualquer forma, quem estuda em universidades públicas está lá por algum mérito próprio, independente de ter posição privilegiada ou não (os estudantes de universidades públicas conhecem os inúmeros casos de alunos que não possuem tal perfil e mesmo assim estão lá). Então os alunos e aqueles que compõem as universidade têm o direito de decidir suas diretrizes, desde que dentro da lei.
Quanto ao vandalismo, deve ser condenado até mesmo pelos que são contra a PM dentro do campus. Não é só o patrimônio público - é a imagem e a estrutura do lugar onde estudam e que representam para os outros. E por mais anarquista que se seja, isto deve ser respeitado e preservado. Quebrou, destruiu e depredou, paga. Medidas acadêmicas ou punitivas devem ser discutidas em pauta separada.
Que finalmente as pessoas consigam resolver cada questão e cada problema de uma determinada vez, buscando suas raízes verdadeiras. Se a polícia deve ou não ficar lá - para qualquer uma das respostas, deem o porquê de estar acontecendo e o que será feito para reparar a situação - isso se conseguirem admitir que a PM foi uma medida provisória. Se o consumo de drogas e de álcool dentro do campus será punido verdadeiramente - o que não precisa ser feito pela polícia que, além de quebrar uma tradição agora "confirmou" para si mesma a imagem de que lá dentro existem milhares de marginais - a situação dificilmente se normalizará.
Se haverá mais integração da USP com a população, democratização verdadeira de decisões cruciais... são todas questões que cercam o cerne do caso, mas que devem ser concluídas uma a uma. E por fim, que todos os vizinhos, públicos e privados, estaduais ou federais possam usar o caso para olhar para o próprio jardim e assim perceberem, que o que está ocorrendo não é exclusivo à Universidade de São Paulo. Em frente à tentativa de refutar, prática tão comum nas Humanas, a ideia do gramado do vizinho sob a perspectiva de que, no fundo, a grama é a mesma e a cerca apenas superficial e, portanto, um problema lá afeta aqui - o que justificaria o excessivo interesse pelo "alheio" - fica a defesa apoiada na mesma ideia: não somente o que afeta lá, afeta aqui; mas também, o que ocorre lá, ocorre aqui.
P.
Mas há algo de atraente na grama ao lado - processo mútuo, pois os dois parecem ser fascinados com o que se ocorre com o solo vizinho. Mais uma vez, não é o fato de superioridade em si - como o jargão popular tenta dizer. É apenas uma atração fofoqueira, que toma não apenas os olhos mas também a boca: superadas as amarras, é questão de tempo até a grama do vizinho se tornar mais importante do que a sua em todas as conversas.
Então vamos lá - toda a imprensa se concentra no caso que absurdamente toma proporções gigantescas em todo o país - os tais drogados que sugam os pais e o Estado para não fazerem nada além de fumar maconha e praticar atos criminosos. Sim, existe uma praga na grama vizinha, todos se concentrem e atirem umas latas vazias dentro da cerca. Foi possível ver pessoas que nem mesmo sabem o que a sigla FFLCH quer dizer protestando por ter seus "impostos" utilizados para a manutenção desses delinquentes - afinal de contas, a USP é mantida pelo país todo e não pelo estado de São Paulo, não é mesmo?
Primeiro ponto: taxar todos os alunos de lá como coniventes com os fatos passados - a invasão e o vandalismo ridículos à reitoria e etc é no mínimo injusto - o termo "coniventes" até pode ter seu uso discutido, uma vez que inegavelmente, eles não impediram a invasão. Mas esta é outra história. A FFLCH tem contribuição inegável para a USP e apoiar a ideia de sua separação com a Universidade é pífia - como representante das Humanidades, sua exclusão resultaria em uma Universidade enfraquecida. Há pessoas lá que realmente estudam, trabalham e se esforçam. E provavelmente é a maioria delas.
Quanto à verdadeira razão desse borburinho todo, a presença da PM dentro do campus, é necessária a filtragem da complexidade de ambos os lados - o que é deixado para trás quando se olha apenas para os argumentos de que "vamos acabar com a festa daqueles maconheiros" (afinal de contas, a PM não foi para lá com esse objetivo) ou então "a PM está lá como braço opressor do Estado que não admite o livre pensamento" (talvez filosoficamente correto, afinal todos sabemos o quão difícil é para alunos que nadam contra a onda ideológica das instituições em que estudam e por mais difícil ainda que seja admitir, "livre pensamento" é uma sentença irreal).
O que deve ser respondido não é se fumar maconha em universidades é correto ou não - a grama do vizinho é interessante, mas talvez nos esqueçamos que esta e as outras drogas são consumidas em todos os gramados de todas as universidades do país e de boa parte do mundo, nos cursos que perpassam as Humanas até as Exatas mais surreais. Ou se a permanência da PM diminui os problemas de violência comumente relatados lá. A pergunta chave é: por que eles estão lá. Ou vão dizer que em algum momento não passou pela cabeça de ninguém que iria acontecer o que houve? Que algum aluno fazendo algo ilegal (moralmente certo ou errado não faz diferença nessa questão, é ilegal e o papel da polícia é o de cumprir a lei) seria repreendido e geraria tudo isso? Era claro. Se a polícia foi uma medida de curto e médio prazo, como foi vinculado, como andam as outras de médio e as de longo prazo? Ou seria mais cômodo deixá-los por lá?
Voltando à questão do gramado: a sociedade se revolta com os alunos da USP pois a imprensa lhe disse que está pagando para manter alunos elitizados que só visam seus interesses próprios e agem fora da lei, como se estivessem acima dela. Mas a sociedade não se mobilizou quando mataram alunos lá dentro. O contra-argumento de que os alunos também não invadiram a reitoria no assassinato é válido. As pessoas só se sensibilizam quando acham que a grama ao lado é mais verde não pelo empenho daquele que a cultiva, mas sim por alguma falcatrua. Deixa de ser merecimento e passa a ser injustiça, o que é inaceitável.
O problema da reitoria, especialmente do reitor também é conhecido e ponto chave de toda discussão. Exigir a integração da Cidade Universitária com a cidade de São Paulo é bastante complicada. As pessoas dizem que mantêm a Universidade e não têm acesso a ela sem ter uma carteirinha ou um cartão. Mas também são as pessoas que mantêm o Judiciário, o Executivo, as autarquias e tantos outros, e em grande parte deles, não entram porque nem mesmo há uma carteirinha. Se tal mecanismo de "segurança" foi implantado, motivo teve. Imaginem os campus universitários totalmente abertos à população, do tamanho que possuem e com a "guarda universitária". Os alunos não aceitariam tal perigo. E com razão.
Basta de ter que ler a respeito da "democracia" do ensino. Nosso ensino universitário é meritocrático como em outras partes do mundo - sim, mais injusto, pois meritocrático em muitos casos no Brasil esconde "censitário", mas de qualquer forma, quem estuda em universidades públicas está lá por algum mérito próprio, independente de ter posição privilegiada ou não (os estudantes de universidades públicas conhecem os inúmeros casos de alunos que não possuem tal perfil e mesmo assim estão lá). Então os alunos e aqueles que compõem as universidade têm o direito de decidir suas diretrizes, desde que dentro da lei.
Quanto ao vandalismo, deve ser condenado até mesmo pelos que são contra a PM dentro do campus. Não é só o patrimônio público - é a imagem e a estrutura do lugar onde estudam e que representam para os outros. E por mais anarquista que se seja, isto deve ser respeitado e preservado. Quebrou, destruiu e depredou, paga. Medidas acadêmicas ou punitivas devem ser discutidas em pauta separada.
Que finalmente as pessoas consigam resolver cada questão e cada problema de uma determinada vez, buscando suas raízes verdadeiras. Se a polícia deve ou não ficar lá - para qualquer uma das respostas, deem o porquê de estar acontecendo e o que será feito para reparar a situação - isso se conseguirem admitir que a PM foi uma medida provisória. Se o consumo de drogas e de álcool dentro do campus será punido verdadeiramente - o que não precisa ser feito pela polícia que, além de quebrar uma tradição agora "confirmou" para si mesma a imagem de que lá dentro existem milhares de marginais - a situação dificilmente se normalizará.
Se haverá mais integração da USP com a população, democratização verdadeira de decisões cruciais... são todas questões que cercam o cerne do caso, mas que devem ser concluídas uma a uma. E por fim, que todos os vizinhos, públicos e privados, estaduais ou federais possam usar o caso para olhar para o próprio jardim e assim perceberem, que o que está ocorrendo não é exclusivo à Universidade de São Paulo. Em frente à tentativa de refutar, prática tão comum nas Humanas, a ideia do gramado do vizinho sob a perspectiva de que, no fundo, a grama é a mesma e a cerca apenas superficial e, portanto, um problema lá afeta aqui - o que justificaria o excessivo interesse pelo "alheio" - fica a defesa apoiada na mesma ideia: não somente o que afeta lá, afeta aqui; mas também, o que ocorre lá, ocorre aqui.
P.
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