terça-feira, 27 de abril de 2010

Ilustre e fosca.

Eu não posso ser fiel a tudo. Estou interpretando um personagem cheio de defeitos. Cheia de defeitos, interpreto a mim mesma. Decidi mergulhar em minhas ideias, mas estou indo tão fundo que na escuridão desse oceano vou sendo caçada por grandes peixes. Desisti de pensar em como irei voltar para casa, a partir de agora, apenas vou. Talvez eu não volte mais, pois estou desistindo de casa também. Eu me perco em minhas palavras, estou esquematizando o tempo todo. Então é aí que me esqueço de cada plano em uma sequência, pois nunca anoto nada, nada além de pequenos trechos de memória salvos nos rascunhos do meu celular.
Há alguns dias que durmo com o amor em minhas costas, assim, tão repentino, sem o peso de uma cruz. Ilustro prédios e imagens foscas. Ilustre garoto, de onde você veio? De certa forma, essa não é a minha pergunta mais importante. Suponho que assim terminará a minha noite, com a única certeza de que a qualquer momento uma resposta virá – certamente, como um balde de água fria.

B.

domingo, 25 de abril de 2010

A de alquimia.

Agora só me falta a razão. E interpretem como quiser. Interpretem como se eu assemelhasse a vida a um quarto organizado. Não, não é isso. Nunca foi. Como sempre, me expressei mal. Mas o que será? Há tanta coisa acontecendo e eu não penso em estar com outra pessoa. Então o que virá? Não é possível. Ou apenas é? Eu só sei que é muita pergunta. Talvez esteja realmente acontecendo. Talvez seja tão perfeito quanto parece. É só uma análise, mas quem sabe você chegou na hora certa, porque em um temporal como esse tudo estaria caindo sobre a minha cabeça. Em tempos como esse eu faria mais besteiras do que o normal. Eu não falaria de um grande dia, eu viveria como sempre em tudo o que já passou. Eu estaria amando e desamando gente. Partindo - na maior parte do dia - e sendo partida todas as noites.

Aonde eu queria chegar é exatamente onde me perdi. E quando começou? Já estamos aqui sem pernas cansadas, então me olhe mais uma vez de sorriso bem atento. Eu adoraria ouvir de você quaisquer que fossem as palavras. Eu não quero escrever aqui como sempre escrevo, de maneira alguma. Eu não quero te sentir como senti todas as outras. Nem em mais doloso crime eu te mataria por estrelas. Eu estou calma. Amanhã desesperada. Depois calma e logo em seguida, como se eu não me conhecesse tão bem, estarei morta de tanto sentir. E para ser mais sincera, eu menti. Naquela poltrona o frio não me consumia, eu me tremia simplesmente por calafrios que rasgavam quase toda a minha pele por estar com você. Faltava pouco para não sentir os meus lábios e as suas mãos esquentavam as minhas como nenhuma outra havia conseguido.

Erro meu falar enquanto é cedo demais. Certa vez ouvi alguém dizer algo como: ''O problema é que as pessoas têm medo, e eu não. '' Você estava certo amigo, as pessoas têm medo, eu tenho medo, mas você também tem medo e não sabe disso. Não tente arranjar desculpa para todas as suas ânsias. O sangue escorre dentro de minhas veias e eu tenho medo. Se tudo saísse como esperado, eu teria mais medo ainda. E agora deitada no escuro, procuro apenas parar de imaginar meu celular tocando. (...) Ok, meu celular acabou de tocar no exato momento em que escrevi isso e mais uma vez sinto medo pela ironia do destino, mas de qualquer forma... Tudo bem, agora tenho a sagacidade de dizer que já não sinto medo, não nesse instante. Ainda estou adormecida por todos os beijos que recebi naquela noite. Nada levará embora o que eu sinto, até que alguém realmente me acorde... Quem sabe.

B. esperando um balde de água fria.

A primeira carta a mim mesmo

Acabo de acordar. Sento-me em minha cama e olho para o lado direito do quarto. Ou será esquerdo? Não sei, não sei mesmo. Sinto-me meio que confusa. Ou confuso? Droga, algo não está certo. Continuo percorrendo as paredes e vejo um vestido amarrotado sobre uma cadeira. Vou até ele e o observo melhor: era estranhamente macio, e bastante cheiroso, devo dizer, como se jamais houvesse sido vestido. Mas, observando melhor, parece que aquele cheiro tão bom não vinha dele, e sim de um pequeno vaso de flores que estava na mesa, flores amarelas, vermelhas e de uma cor que descendia dos mais nobres castanhos, como daqueles olhos pesados e profundos, que nunca te fitam, simplesmente pegam seu coração e o colocam em um lugar onde se você subir para pegá-lo, irá cair. Continuo com o vestido na minha mão direita - parece que agora já sei o que é direito - e com a outra mão pego uma das flores, a mais vermelha delas, e vou até a cadeira que antes era vestida pelo vestido, e nesse momento, serve de apoio intermediário de alguém que não pode voltar a dormir mas também não tem vontade de sair pela porta do quarto.

Repouso o vestido e a flor em meu colo, cruzo os pés, estico os braços e solto um longo sinal de preguiça. Inclino-me para trás, passeio as mãos pelas paredes, que são bem mais frias ao toque do que eram ao simples olhar, o que é bem cômico, porque são como os homens, que você sente-se feliz por se manter longe o suficiente para não sentir a frieza com que eles dizem adeus... Mas as mulheres também são assim, afinal de contas.
Enfim, não acho que isso é hora de ficar dando atenção a isso, tenho duas coisas tão simples, distintas e preciosas em minhas coxas e que merecem mais minha atenção do que homens e mulheres. Volto a me inclinar com a cadeira para trás, posso ficar ali o dia inteiro, incauta e sem ter de ver o Sol por completo lá fora. O cheiro e a imagem, do tecido e da flor, me convencem a vestí-lo, mesmo quando o pijama pareceria mais adequado (só agora me dou conta de que dormi sem roupas essa noite, o que não é comum). Até que a porta se abriu. Era ele que entrara, e com as mãos sobre a cadeira que eu havia abandonado, disse: "Finalmente o vestido, a flor e meu coração são uma coisa só..."

É, meu caro amigo, não havia entendido no momento, que tudo aquilo não passou apenas de uma descrição de algo tão simples, quanto a mulher que ele ama usando um mero vestido florido...
Saudades, meu grande - a cada dia com maior certeza disso - amigo, P.

P., transcrevendo a primeira carta que enviei a mim mesmo...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Longe de vocês e Longe de nós

Falo com a certeza da saudade que me aperta de dois lados: saudades dos que estão longe e saudades dos que ficarão longe. Essa mesma certeza, por incrível que pareça, difere-se bastante daquela de uns 5 anos, quando eu pensava já ter entendido tudo de saudade. O que se posteriorou em meses de tristeza e melancolia, parece agora se anteceder em meses de medo e tristeza. Em comum, com aquele garoto de 5 anos atrás, apenas a tristeza. Talvez nem tão comum assim, mesmo que muitos sintam, é diferente de mim, que sinto agora por muitos... Mas o medo é novidade, nem tão recente, mas o de perder sempre havia sido tão ausente...

Engraçado por não chegar a ser medo de perdê-las, é de perder o que elas têm comigo, de nos perder. É de perder nós. Mesmo que isso signifique reconquistar vocês. Quem me dera poder ser plural sempre, podendo me incluir nas pessoas que eu bem quisesse. Quem me dera poder me conjugar como desejasse, sendo nós e vocês. Gostaria de saber até quando conseguirei ser eu em primeira pessoa e em primeiro lugar...

P., ouvindo "Eskimo" - Damien Rice, fica aqui a frase da música:

"I look to my eskimo friend
When I'm down, down, down."

sexta-feira, 16 de abril de 2010

13:55

Eu tenho um pequeno intervalo entre lágrimas para escrever aqui... Sabem, quero apenas dizer o que me faz estar tão desse jeito, em solidão e desamparo, aquelas que o Gikovate gosta, mas eu quero e meio que não consigo... entender como me desapego depois de tanto sofrimento e me apego ao sofrimento de não conseguir com que ela se apegue a mim. Acho que faz parte, uma vez me tornei mil mosaicos e a figura que me tornei agora, depois de recolhê-los, recriá-los e "aperfeiçoá-los" é simplesmente tola, ciumenta e falha. Hoje não quero ter nenhuma certeza - como se eu ligasse para certezas quando quero ter alguém - como se eu conseguisse mudar ao ponto de acreditar - que posso ter - alguém - quero apenas ficar com a certeza de que choro, porque ainda me restam lágrimas para derrubar...

P.

domingo, 11 de abril de 2010

...e na Terra.

Bem, isso é um pouco complicado... Já que o impossível apenas nos respondeu que a verdade está entre nós. Parece que a mensagem que estava no céu daquele cara, era a de que, qualquer ideia que façamos do céu ou do Tártaro vai ser sempre errônea... Talvez nem errada, mas simplesmente, será nossa ideia, não como indivíduos, mas promulgada como coletividade... como cultura e tradições. O que era dos gregos antes de um Novo Testamento, se não tolos e pagãos? Equivocados? Por terem suas visões sobre tudo? E o que nós fazemos, então?

Achamos que no inferno seremos condenados a perder nossas emoções, que seremos escravizados e punidos, punidos por ter usado de emoções por demais em Terra, então, vamos lá, livrem-se desse mal e fiquem apenas com a razão. Se em Terra pretendemos nos livrar de sentimentos, já que são ruins, de luxúria à vaidade, inveja e blablablá, porque no lugar destinado ao castigo nos tiram essas coisas e nos deixam em razão? E como o céu é um lugar bondoso e puro, se essas são paixões tais como vaidade? A ideia que nós temos de usar exclusivamente as emoções é absolutamente reprovável, não? Seremos tolos, pecadores e errados. Tornar-se-á então necessário distinguir essas coisas tão "discongruentes", certo? Razão e emoção? Joguemos as emoções como representação do coração, e a razão do cérebro. Pronto. Agora, digam-me se as duas não têm o mesmo fundo, a bem da verdade? Se a vontade de bater não é oriunda de alguns centímetros da de ajudar. Ambas do mesmo cérebro. Para que separar então, a razão dos sentimentos, em lugares tão opostos, como o inferno e o céu, se entre eles há nós, os homens e a Terra, e se razão e sentimento são no fundo a mesma coisa... Podem pestanejar e brigar, já que essa afirmação abre o precedente para que céu e inferno também sejam a mesma coisa... Pois eu penso que sim, razão e emoção são as mesmas coisas, são nada além de nós. Assim como inferno e céu, são nós mesmos. Podem tentar separá-los, como eu fiz nos textos um e dois, mas dá para perceber, que se isso for feito, não seremos mais humanos. Pois somos compostos indistintamente de razão e emoção, de alma que é as duas coisas.

E os dois lugares não podem existir depois que morramos. Caso contrário, como poderemos imaginar como tais locais são, se a forma com que os vemos se dá enquanto fazemos uso de nossa razão e sentimentos? E se morrermos e ainda pudermos fazer isso, o que é a morte então, se não uma mudança de ares?

P., mudando de ares...

...do céu...

Pois finalmente cheguei ao céu. Finalmente. Uma vida dura, de sacrifícios e suor, de bondade e devoção, finalmente me trouxeram aqui. Ok. Com quem será que eu falo? Não vejo ninguém. Nem ao menos uma fila, sabem, uma mesa que seja. Nem cornetas. Será que me mandaram para o lugar certo? Ou estou numa espécie de julgamento? Um teste, quem sabe? Será que estou sendo observado? Não vejo ninguém ainda. E ainda estou com minhas roupas... Nada de túnicas brancas. Bom, é verdade que eu nunca vi isso, mas acho que seria o mais adequado. Acho que vou caminhar... mas para onde ando? Oh, uma luz se acendeu ali! Bem, vou pra lá então. (...) Droga, não consigo me mover. Meus pés estão presos e pesados. E começaram a doer. Parece que meu sobrepeso com a altura do céu está mais difícil de ser carregado... hahaha. Ok, isso não é hora pra piadas, vamos lá. E vocês também, vamos lá! Cadê as pessoas? Não consigo ver ninguém... cadê a bondade, meus parentes, a Joana? Ela morreu em acidente de carro, era pura e devota, impossível não ter vindo parar aqui! Não era essa a ideia que eu tinha de céu, sabem, então façam-na valer. Ou vocês querem se passar por mentirosos? Eiiiii!!! Alguém pode me escutar! EIIIII!!!

Quanto tempo será que já passou? Eles não cumprem horários? Que saco! Opa opa, ei, você aí! Até que enfim alguém, você é uma figura abençoada mesmo, oh, fico feliz por estar finalmente aqui. E aí, qual é meu quarto? Não, deixa isso pra lá, diga logo onde está deus, quero finalmente entrar em reunião com ele, se é que você me entende... Você não vai me responder, seu paspalhão!? Cadê deus?!

- Está dentro de você.
- Sim, isso eu sempre soube... mas agora estou perto dele, sabe, no mesmo lugar.
- Você é deus.
- Ah, você só pode estar de brincadeira, né?! Que tipo de brincadeira é essa, se você não sabe me informar de verdade, vou procurar alguém que sirva. Olha, acabou de aparecer um samaritano ali, vamos ver se ele é bom! Ei, colega, você pode me dar uma informação, por favor?
(...)

O que é isso em sua testa? Oi? Pera, deixa eu ler, olha pra cá. Você está bem?! Olha pra cá!

"Se você morre, e vem para um lugar que foi descrito por palavras, por sensações e gestos, por memórias e cantos, então você não vem para um lugar criado por nenhum Deus, e sim, por você mesmo. Ou simplesmente copiado de outros que o criaram. Se você crê que terá consciência de que morreu, e de que foi para o céu, então você não terá morrido e ido para lugar algum, apenas mudado de lugar e permanecido em mesma condição de homem. Embora ache que creia, faz uso da razão, pois está em um lugar onde você imaginou as pessoas com quem conversara e de quem não obteve respostas. Pois elas não estão em você, de qualquer forma. Elas estão apenas entre a humanidade..."

Do Tártaro...


"Quando abre sua mente ao impossível, às vezes, encontra a verdade."

"Impossível saber a verdade sobre algumas coisas."

Bem, foi o que me disseram hoje. Eu resolvi não concordar nem discordar com nenhuma das duas, vejam bem, essa foi uma semana difícil, de grandes dores. Tentem ler a série de textos que irei postar livres de crenças, discriminações ou pré-noções. Leiam com o fundo de seus corações, já que engraçados somos nós, seres que atribuímos mente ao coração, sentimentos à razão e ainda brigamos com as duas coisas. Dispam-se de sua humanidade. Impossível?
Quem sabe não encontremos a verdade.

Ontem, tive a infelicidade de percorrer o Tártaro consciente. O que na verdade me parece ser o motivo daquilo tudo, e que se torna bem contraditório, já que após alguns anos você começa a perder sua consciência e a se tornar qualquer outra coisa, menos um humano. Sabe, aquelas suas emoções que você tanto gosta? Vão todas embora.

Sentei ao lado de um rapaz, devia ter uns 40 anos de Hades (depois de uns cinquenta e poucos, até mesmo sua aparência vai embora, e não sobra nada além de uma fina camada luminosa), então ainda havia um pouco daquela imbecilidade humana em seus olhos, algo do tipo "vamos organizar um hell break", mas, como nós gostamos, suas palavras contradizeram o que seus olhos diziam:

- Eu não quero perder minhas emoções... se isso ocorrer, me tornarei um crápula de verdade... não que eu seja lá essas coisas, você sabe, ninguém vem aqui por acaso, mas eu ainda me arrependo e esse tipo de coisa, e o que eles fazem aqui é inumano, eles transformam almas de homens em pedras sem sentimentos...

Eis aqui o Tártaro. Lugar de sofrimento eterno, de privação e destruição das emoções, onde apenas sua consciência e razão continuam presentes, para que você possa sentir cada dia como uma eternidade de tempo... Eis aqui o Tártaro.