segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sobre ter você.

Querida, se você estiver lendo isso quero que você saiba que eu não a deixei, que eu não a desprezo, eu apenas desci as escadas, pois cansei de cair. Eu sei que é insano, mas você faria o mesmo. Eu não risquei seus discos, eu não queimei suas fotos nem rasguei suas cartas. Eu não pude fazê-lo porque toda vez que eu olhava em seus olhos eles me diziam nada menos que a verdade, que eu nunca amaria alguém como amei você. Eu queria beijá-la o tempo todo, eu queria o mundo o tempo todo. Eu vejo você, eu sinto você, em todas as cicatrizes que me deixou. Eu tenho medo de muitas coisas, inclusive de mim. Eu não posso ter você sem ver você, eu não posso ter o mundo sem você, se me deixasse voltar, eu seria eternamente grato.

Eu não tenho nada nem ninguém, a não ser a saudade que me tem. O seu perfume está na cama, a sua imagem está em todo lugar e a sua camisa já tem furos, pois outra coisa eu não uso. Lembro de quando eu amava a sua amargura, sorria quando você estava triste e cantava enquanto você dormia. Hoje eu vou aos lugares que você costumava frequentar, tento encontrar vestígios, quem sabe um pouco de você não mora lá? Cato coisas, piso em folhas e atiro cacos na água, tiro pedaços da nossa história e encaixo todos eles em mim. Eu te dava flores, beijava os seus olhos e fazia carinho enquanto você jantava, não me diga que não adiantava.

Não diga tudo, não pense em tudo, só lembre-se de mim enquanto você sonha, esqueça-se de mim enquanto você chora e não confunda os seus sapatos com os meus, você não precisa de desculpas para voltar aqui. Eu quero que você chegue mais perto desse lado da cama para que os seus pés possam encostar-se aos meus. Pegue os seus cigarros e junte-se a mim, desça as escadas sem medo de cair, não me julgue tanto assim, se eu não a amasse eu não usaria palavras tão bregas, eu não me sentiria tão louco assim. Me deixe acordar ao seu lado, você não tem nada a peder, quando você estiver pronta então irá saber. Estar com a solidão é sempre assim, não tem nem um começo, quem dirá um fim, mas quando está consigo mesmo não há o que temer. Eu te amo querida, essas são minhas últimas palavras sobre ter você.

B.

domingo, 27 de dezembro de 2009

[Du]vi[da]ndo do [Passado], [Presente] e [Futuro].

No fundo, não achei que você fosse me quebrar em tantos pedaços. Tão fundo, que alguns fragmentos simplesmente não consigo alcançar. Se antes fui mil mosaicos agora olho para meu coração e vejo a figura que, juntando um a um, formei. Não posso dizer que gerei algo indesejado, pois é exatamente quem mais desejo. Mas parece que meu desejo tem como garantia o aborrecimento do extremo apego. E do meu desapego, onde, no final das contas, só resta apegar-me a mim mesmo, parece que você tem medo. Diz gritar por ódio e não por chateação, só pode odiar a situação que está. Odeia ter medo. E teme me amar, por que sabe que te amo, mas não acredita, por ter medo de saber em que pode acreditar. E quando se sabe em que acreditar, se duvida, pois, quando se sabe de verdade, se sabe da verdade, e, então, sabe-se que é impossível acreditar. Teme tanto ao conhecimento quando à penumbra, mas rejeita a incerteza, mesmo que, muito em breve, é exatamente nela em que se encontrará, mascarada de Futuro, que agora, nada sabe, mas, que há muito pouco tempo passado, de Presente não tem mais nada, apenas de Passado. De Presente, nunca se tem nada, já que a certeza só se faz presente nele, e não há certeza que dure tanto a ponto de validá-lo: Uma certeza existe quando deixa de ser Passado e morre quando passa a ser Futuro.

E o Futuro? Não sei, certamente, o que dizer. Se valer de algo o que acredito, posso responder que estarei aqui, quando minha condição mudar de “por enquanto” e passe a ser “portanto”, e de sua boca, apenas essas palavras irão restar: “portanto, me ame agora, pois eu também posso te amar.”

P.