quinta-feira, 19 de abril de 2012

... C'est la vie!

Falar de essência soa repetitivo e não diferente. É verdade que soa-se certo, pois é o tipo de coisa que tudo se falou e pouco se muda. Essencialmente, é aquela janela pela qual olhamos tudo acontecer. Sabem, não importa seu estado de observância, seja feliz, triste, pessimista ou realista, a direita ou a esquerda, troca-se o foco e o ponto de vista, mas nunca por onde se olha. Tanto dentro e fora, toda fluidez contrasta com aquela superfície imóvel, rangendo às pressões para ceder. Não cede porque então, por onde se olharia? 

Escuto há muito que o melhor é percorrê-la em todos, pois, somente assim, pode-se conhecer verdadeiramente alguém. Tentando fazer há não tanto mas consideravelmente o suficiente para admitir "eu fiz o que pude", acho que só resta considerar que cansei. As pessoas simplesmente não enxergam as bordas e apenas aquilo que veem as ocupa... Ninguém liga para o que realmente sustenta tudo. 

Resta esperar que a visão vá embora, o que ocorre quando não sabemos qual rumo tomar, e então tatear será a única solução até a armação cravada na superfície lisa e vazia... que então, será apenas uma janela. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

So far...

Desista de lutar pelos seus sonhos.

A não ser que sejam objetivos… Que na verdade se faz escrito desta forma, e não “seus objetivos” pela falta de existir “nossos” objetivos. São apenas coisas alcançadas por outros e que queremos atingir também – seja por vermos a felicidade, o sucesso ou o conforto deles. Tais coisas sim, merecem nosso empenho e vontade para serem conquistadas. Não os sonhos.

Vão para a gaveta simplesmente porque não vemos outras pessoas mostrando que são possíveis ou nos dizendo que podemos conseguir. Que sonhar em encontrar alguém que envelhecerá ao seu lado é loucura, uma vez que “ao seu lado” e “envelhecer” são coisas contraditórias; as pessoas suplantam umas às outras, colocando-se a frente ou atrás, de forma que as prioridades empurram o envelhecer bem para dentro de uma sala com lugar apenas para um: ninguém pode estar ao seu lado.

Ou que ninguém nunca será o pioneiro em nada. Isto é, a explicação por não ter sido feito ainda resume-se à impossibilidade e não à incompetência. Se alguém nunca foi suficientemente competente, por que você seria?

Tais coisas tolas, os sonhos, não têm mais espaço em vidas com objetivos. Ao longo do tempo a associação entre sonho e irreal produziu como resultado cada vez de forma mais presente o impossível. Claramente, coisas bastante distintas, mas cujo argumento é forte o suficiente para nos fazer focar em objetivos e não em devaneios.

Quando alcançamos nossos objetivos podemos chegar à conclusão de que não eram bem nossos, mas sim, de outros. E isto nos entristecerá. Quando encontramos um objetivo que podemos chamar de nosso, temos um sonho. Algo que não abre espaço para comentários alheios sobre impossibilidades ou utopias. Porque assim como ninguém sente o sonho de ninguém, não é possível comentá-lo.

E ainda, não se pode lutar pelos sonhos que não são verdadeiramente seus. Infelizmente porque para realizar um sonho é necessário crescimento. E ninguém cresce por ninguém. Felizmente.
P.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Gipsies

De repente não há mais diferença entre a neve e a chuva; são água na mesma proporção que o tempo agrega e separa. Como vêm também é irrelevante, porque tempo é tão amplo e definidor que torna desconhecidos em melhores amigos sem precisar de comunicação eficiente ou congruências culturais. Basta estarmos na mesma situação - seja dificuldade ou necessidade - e tal qual agregou, a menor mudança de tempo separa e torna a solidez em meras gotas esparsas. Apenas memória futura. 

Mas e daí? Não é repentinamente que o que está perto é idêntico ao que se torna na distância. Sempre foi e será assim. Confiando nisso, não se tem medo de ir... Pois você sabe que quando voltar as coisas verdadeiras ainda estarão lá. Diferentes, pois elas não são eternas, são apenas mais fortes do que questão de tempo. São o tipo de razões que te fazem querer ir... de volta.

P.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sempre sobra 1

Num italiano corrido, ele articulava sobre a simplicidade da vida e das pessoas.

"É como um sinal de trânsito. As cores estão lá puramente por decoração. Bem, talvez alguns fracos se deixem guiar pelo que os outros dizem - isto é, amarelo igual a pisa fundo ou freia; vermelho igual a pare. Mas não ligo, para mim as cores só estão lá para tirá-los do caminho. São tão significantes, tais pessoas e as cores, quanto você".

Hm... não sei até que ponto - retirando-se a delicadeza italiana - isso é verdadeiro. Perguntei a ele sobre se amar alguém.

"Amar alguém como? Há vários tipos de alguém, de amor não. No meu país falam que existem inúmeras maneiras de se demonstrar o amor, mas eu discordo. Amar é estar conectado em alguma esfera, de alguma forma, em alguma hora. A frequência e intensidade sim, dependem... mas dá tudo na mesma. Agora quanto às pessoas, ok. Quem você ama? Saber disso é mais importante do que amá-la em si".

Bem, ela é...

"Pode parando. Se você acha que a conhece, então está tudo terminado. O amor e a admiração crescem conforme se conhece alguém. Você admira o que já conhece nela e respeita seus defeitos?"

Sim.

"E tem dúvidas do quê? Ou é medo?"
Não sei bem.
"Ah, male... se for medo das cores do sinal mudarem, eu vou ignorar. Você só precisa ter dúvidas se vai pisar fundo ou freiar. Esta é a única incógnita."

P.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Brinco em formato de coração

Não tenho problemas com saudade
tenho problemas com a distância.

É fácil superar a sensação de falta quando se pensa na de indiferença.
E que diferença faz se longe perdemos as coisas que fazem os momentos únicos?

Talvez esteja em reconhecer que o são, em todas suas idiossincrasias, pois possuem um contexto - tal qual todo texto. Contextos diferentes mudam um mesmo texto... dão a ele essa característica dissociante.

Que bonito que em uma vida determinada por escolhas e limitada por intervalos de tempo, possamos sermos felizes mesmo quando os dois primeiros conspiram contra.

Afinal de contas, a pior distância é a criada, não a imposta.
Há algo que você aprende, após percorrer muitos lugares e mudar muitas vezes.
Uma viagem é apenas um resumo muito curto de sua vida; mudamos de forma natural (internamente) e obviamente percorremos muitos lugares mesmo que localmente.

A intensidade é maior, é verdade. Mas e daí?
Não precisa ser "eterno enquanto dure", precisa durar o suficiente para ser intenso.

Por fim, uma frase atribuída ao Dalai Lama (se é dele ou não, tanto faz, o que importa é que se trata de uma daquelas coisas impossíveis de se modificar, melhorar, enfim... é completa por si só):

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar."

É hora de voar...
Até a volta!

P. com saudade, mas jamais distante.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu ∩ você

Quando eu vi pela primeira vez um Diagrama de Venn - aquele dos círculos que atormentam boa parte dos alunos na escola - eu não imaginei que ele resumiria tão bem um relacionamento. É verdade que somente algum tempo depois, juntando pontos de algo que ouvi, foi possível dar forma à observação. A frase era algo como:

"Namorar é ter um mundo em comum com alguém, mas cada um deve permanecer tendo o seu próprio".

Possuímos um mundo próprio, com nossos amigos, familiares, gostos e experiências próprias. Ao estarmos juntos com alguém - que por sua vez, também possui o mesmo tipo de mundo único - criamos uma dimensão comum aos dois, que abrange elementos de cada um - conhecemos os pais, os amigos, incorporamos certos pensamentos...


A intersecção então formada expande-se cada vez mais. De forma mútua, ocorre um apoderamento daquilo que era do outro e uma exclusão das pessoas, formas de diversão, posturas e roupas de que não gostamos. Quem nunca abriu mão de amizades, de contato, de se fazer o que gosta porque a outra pessoa simplesmente não aceita? O entrelaçamento entre os dois conjuntos e a perda da capacidade de se limitar o que é de cada um cria um efeito interessante... A partir deste ponto, as pessoas não conseguem mais imaginar a vida delas sem o companheiro.

Lógico, quase tudo aquilo que você faz o inclui. Fazer algo sem ele simplesmente não tem mais graça. Algumas pessoas chamam isto de amor. Eu chamo de apoderamento e de fim. Pois há algo intrínseco à vida, e portanto ao amor, que essa postura não consegue encarar. As coisas e as pessoas simplesmente mudam. Aquilo que você gostava hoje deixa de gostar amanhã. O que você fazia ano passado perdeu valor agora. Um dia, um dos dois ou ambos irão seguir seus caminhos. E então os mundos particulares - cujas especificidades foram perdidas em meio à mistura anterior - começam a se desenvolver e apontar para nortes diferentes. Conhecemos novas pessoas, passamos a admirar características distintas. Mudamos e percebemos a mesma (e diferente) mudança na outra pessoa. Sentimos muito, pois após um longo tempo com alguém, reconhecemos que estamos com uma pessoa diferente daquela pela qual nos apaixonamos.

O tempo dividido, essencial para o mundo comum, torna-se escasso. E então, o dito inevitável acontece. O relacionamento traduz-se em um único ponto de tangência entre mundos agora totalmente distintos: o compromisso.



É... o que foi tão belo parece apenas algo que nos prende. Apenas uma espécie de obrigação - a do compromisso - nos impede de seguir em frente. Conheço casos que aguentam meses, anos ou mesmo uma vida inteira (filhos, negócios e "heranças" da intersecção pesam muito) assim. É uma cinza visão de todos os relacionamentos amorosos. Mas é evitável.

Para perdurar um relacionamento basta renová-lo. Tal como todo o resto mutaciona-se, um mundo compartilhado não deve ser opressor das partes não comuns. Não se pode coibir quem amamos de fazer aquilo que gosta somente porque não aprovamos. Se ela gosta de sair com as amigas para dançar e você não suporta, não a impeça de ir somente por ciúmes. Também não vá por obrigação e crie um clima ruim a noite inteira. Deixe-a ir. Isto não é perder quem se ama. É dar a sensação de que existe confiança e evitar vontades reprimidas. Ora, ela sempre irá querer sair com as amigas pois é algo próprio dela. Quando agimos dessa forma, sabemos que a pessoa escolherá não ir e estar no mundo comum por inteira vontade. É uma árdua missão que deve existir desde o começo. E ser recíproca. A habilidade de renovar o amor e, além, a vontade de renová-lo ao lado da confiança, do respeito e da transparência são aqueles pontos que tornam qualquer intersecção forte o suficiente para abrir mão de seu tamanho.

Em que fase vocês estão?

P.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A vida continua

Paraísos devem ser interessantes.

Sempre defendi que nossa essência é aquilo que realmente nos caracteriza e nos especifica. Seu rumo natural é não ser alterada. Se é imprescindível, deve ser permanente, constante. Qualquer variação ameaça destruir a base de todos nossos pensamentos e ações. Aquela velha história do triângulo e do quadrado.

Como explicar a origem de algo que originou a nós mesmos? Uma vez que nossos comportamentos são determinados - há demasiado simplismo aqui, pois não é incomum contradizermos aquilo que somos quando agimos ou falamos - por nossa essência, o que a teria formado? E quando? Nascemos com ela, como algo colocado em nós ou a desenvolvemos conforme temos as primeiras impressões do mundo? Adotar a linha "perguntas sem respostas são respondidas sem perguntar" parece a única solução neste caso, assim como em todos os outros onde ao aplicar uma lógica simples, isto é, "algo que cria tem de ter sido criado por algo mais ancestral" há apenas um vazio sem sentido. Ou se escolhe acreditar ou se acredita escolher.

Ok, como não há resposta, deixemos de lado a questão per si. Vamos às consequências: quem não conhece alguém que a todo momento tenta ser aquilo que não é? O que não tem, deseja ter e, sem conseguir, expele suas frustrações nos que têm e nos que assim como ele também não podem possuir. A mesma tentativa de emulação é realizada com as características, opiniões e hábitos que não compunham sua essência. Alguns levam a vida assim, aplicando perfeitamente o significado da palavra "pessoa" (máscara) em tudo o que fazem; todos nós somos diferentes com todos os outros, é verdade. Mas quando se tenta parecer diferente, certas coisas vão se perdendo. Coisas que deveriam ser permanentes, constantes.

Isto é apenas uma ponderação, nada algo terminado quando finalizado. Para mim esta é a arte, ao menos sua essência. Aquilo que foi feito e terminado como arte, está feito. Não deve ser alterado, corrigido ou censurado. Às vezes é o melhor a se fazer, mas corrigindo as imperfeições, os excessos ou absurdos, elimina-se a característica humana dela. Talvez o resultado prático final seja melhor, mais justo ou mais adequado. Portanto, esse texto ainda não foi terminado. São apenas observações a respeito do que tem ocorrido ultimamente - não é diferente do que usualmente faço, mas neste caso, ainda está tudo tão em desenvolvimento que qualquer tentativa de capturar e aprisionar em palavras é maléfica... Eu tenho expectativas quanto ao paraíso. Obviamente nunca acreditei em nenhum, mas se o inferno pode ser irônico, por que o paraíso não pode ser atingido?

P.

sábado, 19 de novembro de 2011

Anônfalo

É estranho perder um ponto central e tão comum... ao menos ultimamente. Fazia tempo que não o sentia - cheguei mesmo a duvidar de sua presença - mas aos poucos, de uma maneira pouco provável mas muito esperada, um vínculo forte parece voltar a se formar de forma natural, sólida. A força de uma relação está em sua solidez (como suporta as crises) e na transparência (como se chega à resolução das mesmas). Quando somos transparentes, cativamos a confiança que confere tal resistência. Algumas pessoas só conseguem alimentar o amor com essa combinação, pois sabem que ela é a única que pode mantê-lo.

Eis o jeito de sentir-se bem.

P.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre a PM na USP

A questão não é se o tom da grama vizinha é mais atraente do que a doméstica. Na verdade é bastante difícil diferenciá-las, vejam bem: era um único grande terreno, desnudo e sem preparo prévio - mas no qual dois vizinhos resolveram apostar. Cada um segura sua parte da cerca, vira as costas e finge que a respectiva metade é um universo singular a ser formado diante de suas próprias perspectivas e sem a interferência do agora, ex-companheiro de negócio. Casa construída, padrões e rotinas estabelecidos.

Mas há algo de atraente na grama ao lado - processo mútuo, pois os dois parecem ser fascinados com o que se ocorre com o solo vizinho. Mais uma vez, não é o fato de superioridade em si - como o jargão popular tenta dizer. É apenas uma atração fofoqueira, que toma não apenas os olhos mas também a boca: superadas as amarras, é questão de tempo até a grama do vizinho se tornar mais importante do que a sua em todas as conversas.

Então vamos lá - toda a imprensa se concentra no caso que absurdamente toma proporções gigantescas em todo o país - os tais drogados que sugam os pais e o Estado para não fazerem nada além de fumar maconha e praticar atos criminosos. Sim, existe uma praga na grama vizinha, todos se concentrem e atirem umas latas vazias dentro da cerca. Foi possível ver pessoas que nem mesmo sabem o que a sigla FFLCH quer dizer protestando por ter seus "impostos" utilizados para a manutenção desses delinquentes - afinal de contas, a USP é mantida pelo país todo e não pelo estado de São Paulo, não é mesmo?

Primeiro ponto: taxar todos os alunos de lá como coniventes com os fatos passados - a invasão e o vandalismo ridículos à reitoria e etc é no mínimo injusto - o termo "coniventes" até pode ter seu uso discutido, uma vez que inegavelmente, eles não impediram a invasão. Mas esta é outra história. A FFLCH tem contribuição inegável para a USP e apoiar a ideia de sua separação com a Universidade é pífia - como representante das Humanidades, sua exclusão resultaria em uma Universidade enfraquecida. Há pessoas lá que realmente estudam, trabalham e se esforçam. E provavelmente é a maioria delas.

Quanto à verdadeira razão desse borburinho todo, a presença da PM dentro do campus, é necessária a filtragem da complexidade de ambos os lados - o que é deixado para trás quando se olha apenas para os argumentos de que "vamos acabar com a festa daqueles maconheiros" (afinal de contas, a PM não foi para lá com esse objetivo) ou então "a PM está lá como braço opressor do Estado que não admite o livre pensamento" (talvez filosoficamente correto, afinal todos sabemos o quão difícil é para alunos que nadam contra a onda ideológica das instituições em que estudam e por mais difícil ainda que seja admitir, "livre pensamento" é uma sentença irreal).

O que deve ser respondido não é se fumar maconha em universidades é correto ou não - a grama do vizinho é interessante, mas talvez nos esqueçamos que esta e as outras drogas são consumidas em todos os gramados de todas as universidades do país e de boa parte do mundo, nos cursos que perpassam as Humanas até as Exatas mais surreais. Ou se a permanência da PM diminui os problemas de violência comumente relatados lá. A pergunta chave é: por que eles estão lá. Ou vão dizer que em algum momento não passou pela cabeça de ninguém que iria acontecer o que houve? Que algum aluno fazendo algo ilegal (moralmente certo ou errado não faz diferença nessa questão, é ilegal e o papel da polícia é o de cumprir a lei) seria repreendido e geraria tudo isso? Era claro. Se a polícia foi uma medida de curto e médio prazo, como foi vinculado, como andam as outras de médio e as de longo prazo? Ou seria mais cômodo deixá-los por lá?

Voltando à questão do gramado: a sociedade se revolta com os alunos da USP pois a imprensa lhe disse que está pagando para manter alunos elitizados que só visam seus interesses próprios e agem fora da lei, como se estivessem acima dela. Mas a sociedade não se mobilizou quando mataram alunos lá dentro. O contra-argumento de que os alunos também não invadiram a reitoria no assassinato é válido. As pessoas só se sensibilizam quando acham que a grama ao lado é mais verde não pelo empenho daquele que a cultiva, mas sim por alguma falcatrua. Deixa de ser merecimento e passa a ser injustiça, o que é inaceitável.

O problema da reitoria, especialmente do reitor também é conhecido e ponto chave de toda discussão. Exigir a integração da Cidade Universitária com a cidade de São Paulo é bastante complicada. As pessoas dizem que mantêm a Universidade e não têm acesso a ela sem ter uma carteirinha ou um cartão. Mas também são as pessoas que mantêm o Judiciário, o Executivo, as autarquias e tantos outros, e em grande parte deles, não entram porque nem mesmo há uma carteirinha. Se tal mecanismo de "segurança" foi implantado, motivo teve. Imaginem os campus universitários totalmente abertos à população, do tamanho que possuem e com a "guarda universitária". Os alunos não aceitariam tal perigo. E com razão.

Basta de ter que ler a respeito da "democracia" do ensino. Nosso ensino universitário é meritocrático como em outras partes do mundo - sim, mais injusto, pois meritocrático em muitos casos no Brasil esconde "censitário", mas de qualquer forma, quem estuda em universidades públicas está lá por algum mérito próprio, independente de ter posição privilegiada ou não (os estudantes de universidades públicas conhecem os inúmeros casos de alunos que não possuem tal perfil e mesmo assim estão lá). Então os alunos e aqueles que compõem as universidade têm o direito de decidir suas diretrizes, desde que dentro da lei.

Quanto ao vandalismo, deve ser condenado até mesmo pelos que são contra a PM dentro do campus. Não é só o patrimônio público - é a imagem e a estrutura do lugar onde estudam e que representam para os outros. E por mais anarquista que se seja, isto deve ser respeitado e preservado. Quebrou, destruiu e depredou, paga. Medidas acadêmicas ou punitivas devem ser discutidas em pauta separada.
Que finalmente as pessoas consigam resolver cada questão e cada problema de uma determinada vez, buscando suas raízes verdadeiras. Se a polícia deve ou não ficar lá - para qualquer uma das respostas, deem o porquê de estar acontecendo e o que será feito para reparar a situação - isso se conseguirem admitir que a PM foi uma medida provisória. Se o consumo de drogas e de álcool dentro do campus será punido verdadeiramente - o que não precisa ser feito pela polícia que, além de quebrar uma tradição agora "confirmou" para si mesma a imagem de que lá dentro existem milhares de marginais - a situação dificilmente se normalizará.

Se haverá mais integração da USP com a população, democratização verdadeira de decisões cruciais... são todas questões que cercam o cerne do caso, mas que devem ser concluídas uma a uma. E por fim, que todos os vizinhos, públicos e privados, estaduais ou federais possam usar o caso para olhar para o próprio jardim e assim perceberem, que o que está ocorrendo não é exclusivo à Universidade de São Paulo. Em frente à tentativa de refutar, prática tão comum nas Humanas, a ideia do gramado do vizinho sob a perspectiva de que, no fundo, a grama é a mesma e a cerca apenas superficial e, portanto, um problema lá afeta aqui - o que justificaria o excessivo interesse pelo "alheio" - fica a defesa apoiada na mesma ideia: não somente o que afeta lá, afeta aqui; mas também, o que ocorre lá, ocorre aqui.

P.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Falha geoamorosa

É como uma grande ruptura. Um abismo em que você atira todas as verdades que sempre engoliu e contou por aí. Desabafar de alguma forma ajuda mas não resolve seus problemas. Também entram as vontades reprimidas aparentemente sem motivos – mesmo quando o problema estava apenas em você, por não conseguir enxergá-los – e cuja projeção cria heróis que o tempo mostra serem irreais.

A partir do momento em que qualquer relação afetiva é estabelecida com outra pessoa, tal abismo começa a existir. É o “outro lado” de uma moeda que pode ser confundido com anti-matéria, mas no fundo é apenas inevitável. Depende então, dos que comungam da relação, serem sinceros e francos consigo mesmos e mutuamente – todos os “deixa pra lá” que apenas encobrem um “não lhe perdoei” caem ruptura abaixo, alimentando-a e afastando falha após falha.

Torna-se uma questão de acontecimentos e de tempo; tal abismo já é tão grande que nem mesmo o pulo mais desesperado pode vencê-lo. As coisas simplesmente se rompem e você tem de escolher. Às vezes é possível designar algum culpado. Neste caso é bem fácil de se seguir em frente. Mas e quando nem mesmo a culpa sabe a quem agarrar?

Não deixem tal abismo crescer tanto a ponto de confundi-los. O que está feito está feito. E para algumas pessoas esta é uma verdade axiomática. Eu enfrentei diversas rupturas mas nenhuma é tão difícil quanto a de agora. Com relação à culpa, bem, foi abismo abaixo. Pedir perdão torna-se inútil, pois não há desculpa para a escolha de se seguir em frente e abandonar atrás de uma ruptura o que foi construído até então. Talvez realmente seja imperdoável, principalmente para aqueles que não costumam fazê-lo. Mas se serve de consolo, as rupturas irão acontecer independentemente de nossa vontade. E ninguém fica com a consciência pesada por perdoar alguém.