Quando eu vi pela primeira vez um Diagrama de Venn - aquele dos círculos que atormentam boa parte dos alunos na escola - eu não imaginei que ele resumiria tão bem um relacionamento. É verdade que somente algum tempo depois, juntando pontos de algo que ouvi, foi possível dar forma à observação. A frase era algo como:
"Namorar é ter um mundo em comum com alguém, mas cada um deve permanecer tendo o seu próprio".
Possuímos um mundo próprio, com nossos amigos, familiares, gostos e experiências próprias. Ao estarmos juntos com alguém - que por sua vez, também possui o mesmo tipo de mundo único - criamos uma dimensão comum aos dois, que abrange elementos de cada um - conhecemos os pais, os amigos, incorporamos certos pensamentos...
A intersecção então formada expande-se cada vez mais. De forma mútua, ocorre um apoderamento daquilo que era do outro e uma exclusão das pessoas, formas de diversão, posturas e roupas de que não gostamos. Quem nunca abriu mão de amizades, de contato, de se fazer o que gosta porque a outra pessoa simplesmente não aceita? O entrelaçamento entre os dois conjuntos e a perda da capacidade de se limitar o que é de cada um cria um efeito interessante... A partir deste ponto, as pessoas não conseguem mais imaginar a vida delas sem o companheiro.
Lógico, quase tudo aquilo que você faz o inclui. Fazer algo sem ele simplesmente não tem mais graça. Algumas pessoas chamam isto de amor. Eu chamo de apoderamento e de fim. Pois há algo intrínseco à vida, e portanto ao amor, que essa postura não consegue encarar. As coisas e as pessoas simplesmente mudam. Aquilo que você gostava hoje deixa de gostar amanhã. O que você fazia ano passado perdeu valor agora. Um dia, um dos dois ou ambos irão seguir seus caminhos. E então os mundos particulares - cujas especificidades foram perdidas em meio à mistura anterior - começam a se desenvolver e apontar para nortes diferentes. Conhecemos novas pessoas, passamos a admirar características distintas. Mudamos e percebemos a mesma (e diferente) mudança na outra pessoa. Sentimos muito, pois após um longo tempo com alguém, reconhecemos que estamos com uma pessoa diferente daquela pela qual nos apaixonamos.
O tempo dividido, essencial para o mundo comum, torna-se escasso. E então, o dito inevitável acontece. O relacionamento traduz-se em um único ponto de tangência entre mundos agora totalmente distintos: o compromisso.
É... o que foi tão belo parece apenas algo que nos prende. Apenas uma espécie de obrigação - a do compromisso - nos impede de seguir em frente. Conheço casos que aguentam meses, anos ou mesmo uma vida inteira (filhos, negócios e "heranças" da intersecção pesam muito) assim. É uma cinza visão de todos os relacionamentos amorosos. Mas é evitável.
Para perdurar um relacionamento basta renová-lo. Tal como todo o resto mutaciona-se, um mundo compartilhado não deve ser opressor das partes não comuns. Não se pode coibir quem amamos de fazer aquilo que gosta somente porque não aprovamos. Se ela gosta de sair com as amigas para dançar e você não suporta, não a impeça de ir somente por ciúmes. Também não vá por obrigação e crie um clima ruim a noite inteira. Deixe-a ir. Isto não é perder quem se ama. É dar a sensação de que existe confiança e evitar vontades reprimidas. Ora, ela sempre irá querer sair com as amigas pois é algo próprio dela. Quando agimos dessa forma, sabemos que a pessoa escolherá não ir e estar no mundo comum por inteira vontade. É uma árdua missão que deve existir desde o começo. E ser recíproca. A habilidade de renovar o amor e, além, a vontade de renová-lo ao lado da confiança, do respeito e da transparência são aqueles pontos que tornam qualquer intersecção forte o suficiente para abrir mão de seu tamanho.
Em que fase vocês estão?
P.
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