quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Brinco em formato de coração

Não tenho problemas com saudade
tenho problemas com a distância.

É fácil superar a sensação de falta quando se pensa na de indiferença.
E que diferença faz se longe perdemos as coisas que fazem os momentos únicos?

Talvez esteja em reconhecer que o são, em todas suas idiossincrasias, pois possuem um contexto - tal qual todo texto. Contextos diferentes mudam um mesmo texto... dão a ele essa característica dissociante.

Que bonito que em uma vida determinada por escolhas e limitada por intervalos de tempo, possamos sermos felizes mesmo quando os dois primeiros conspiram contra.

Afinal de contas, a pior distância é a criada, não a imposta.
Há algo que você aprende, após percorrer muitos lugares e mudar muitas vezes.
Uma viagem é apenas um resumo muito curto de sua vida; mudamos de forma natural (internamente) e obviamente percorremos muitos lugares mesmo que localmente.

A intensidade é maior, é verdade. Mas e daí?
Não precisa ser "eterno enquanto dure", precisa durar o suficiente para ser intenso.

Por fim, uma frase atribuída ao Dalai Lama (se é dele ou não, tanto faz, o que importa é que se trata de uma daquelas coisas impossíveis de se modificar, melhorar, enfim... é completa por si só):

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar."

É hora de voar...
Até a volta!

P. com saudade, mas jamais distante.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu ∩ você

Quando eu vi pela primeira vez um Diagrama de Venn - aquele dos círculos que atormentam boa parte dos alunos na escola - eu não imaginei que ele resumiria tão bem um relacionamento. É verdade que somente algum tempo depois, juntando pontos de algo que ouvi, foi possível dar forma à observação. A frase era algo como:

"Namorar é ter um mundo em comum com alguém, mas cada um deve permanecer tendo o seu próprio".

Possuímos um mundo próprio, com nossos amigos, familiares, gostos e experiências próprias. Ao estarmos juntos com alguém - que por sua vez, também possui o mesmo tipo de mundo único - criamos uma dimensão comum aos dois, que abrange elementos de cada um - conhecemos os pais, os amigos, incorporamos certos pensamentos...


A intersecção então formada expande-se cada vez mais. De forma mútua, ocorre um apoderamento daquilo que era do outro e uma exclusão das pessoas, formas de diversão, posturas e roupas de que não gostamos. Quem nunca abriu mão de amizades, de contato, de se fazer o que gosta porque a outra pessoa simplesmente não aceita? O entrelaçamento entre os dois conjuntos e a perda da capacidade de se limitar o que é de cada um cria um efeito interessante... A partir deste ponto, as pessoas não conseguem mais imaginar a vida delas sem o companheiro.

Lógico, quase tudo aquilo que você faz o inclui. Fazer algo sem ele simplesmente não tem mais graça. Algumas pessoas chamam isto de amor. Eu chamo de apoderamento e de fim. Pois há algo intrínseco à vida, e portanto ao amor, que essa postura não consegue encarar. As coisas e as pessoas simplesmente mudam. Aquilo que você gostava hoje deixa de gostar amanhã. O que você fazia ano passado perdeu valor agora. Um dia, um dos dois ou ambos irão seguir seus caminhos. E então os mundos particulares - cujas especificidades foram perdidas em meio à mistura anterior - começam a se desenvolver e apontar para nortes diferentes. Conhecemos novas pessoas, passamos a admirar características distintas. Mudamos e percebemos a mesma (e diferente) mudança na outra pessoa. Sentimos muito, pois após um longo tempo com alguém, reconhecemos que estamos com uma pessoa diferente daquela pela qual nos apaixonamos.

O tempo dividido, essencial para o mundo comum, torna-se escasso. E então, o dito inevitável acontece. O relacionamento traduz-se em um único ponto de tangência entre mundos agora totalmente distintos: o compromisso.



É... o que foi tão belo parece apenas algo que nos prende. Apenas uma espécie de obrigação - a do compromisso - nos impede de seguir em frente. Conheço casos que aguentam meses, anos ou mesmo uma vida inteira (filhos, negócios e "heranças" da intersecção pesam muito) assim. É uma cinza visão de todos os relacionamentos amorosos. Mas é evitável.

Para perdurar um relacionamento basta renová-lo. Tal como todo o resto mutaciona-se, um mundo compartilhado não deve ser opressor das partes não comuns. Não se pode coibir quem amamos de fazer aquilo que gosta somente porque não aprovamos. Se ela gosta de sair com as amigas para dançar e você não suporta, não a impeça de ir somente por ciúmes. Também não vá por obrigação e crie um clima ruim a noite inteira. Deixe-a ir. Isto não é perder quem se ama. É dar a sensação de que existe confiança e evitar vontades reprimidas. Ora, ela sempre irá querer sair com as amigas pois é algo próprio dela. Quando agimos dessa forma, sabemos que a pessoa escolherá não ir e estar no mundo comum por inteira vontade. É uma árdua missão que deve existir desde o começo. E ser recíproca. A habilidade de renovar o amor e, além, a vontade de renová-lo ao lado da confiança, do respeito e da transparência são aqueles pontos que tornam qualquer intersecção forte o suficiente para abrir mão de seu tamanho.

Em que fase vocês estão?

P.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A vida continua

Paraísos devem ser interessantes.

Sempre defendi que nossa essência é aquilo que realmente nos caracteriza e nos especifica. Seu rumo natural é não ser alterada. Se é imprescindível, deve ser permanente, constante. Qualquer variação ameaça destruir a base de todos nossos pensamentos e ações. Aquela velha história do triângulo e do quadrado.

Como explicar a origem de algo que originou a nós mesmos? Uma vez que nossos comportamentos são determinados - há demasiado simplismo aqui, pois não é incomum contradizermos aquilo que somos quando agimos ou falamos - por nossa essência, o que a teria formado? E quando? Nascemos com ela, como algo colocado em nós ou a desenvolvemos conforme temos as primeiras impressões do mundo? Adotar a linha "perguntas sem respostas são respondidas sem perguntar" parece a única solução neste caso, assim como em todos os outros onde ao aplicar uma lógica simples, isto é, "algo que cria tem de ter sido criado por algo mais ancestral" há apenas um vazio sem sentido. Ou se escolhe acreditar ou se acredita escolher.

Ok, como não há resposta, deixemos de lado a questão per si. Vamos às consequências: quem não conhece alguém que a todo momento tenta ser aquilo que não é? O que não tem, deseja ter e, sem conseguir, expele suas frustrações nos que têm e nos que assim como ele também não podem possuir. A mesma tentativa de emulação é realizada com as características, opiniões e hábitos que não compunham sua essência. Alguns levam a vida assim, aplicando perfeitamente o significado da palavra "pessoa" (máscara) em tudo o que fazem; todos nós somos diferentes com todos os outros, é verdade. Mas quando se tenta parecer diferente, certas coisas vão se perdendo. Coisas que deveriam ser permanentes, constantes.

Isto é apenas uma ponderação, nada algo terminado quando finalizado. Para mim esta é a arte, ao menos sua essência. Aquilo que foi feito e terminado como arte, está feito. Não deve ser alterado, corrigido ou censurado. Às vezes é o melhor a se fazer, mas corrigindo as imperfeições, os excessos ou absurdos, elimina-se a característica humana dela. Talvez o resultado prático final seja melhor, mais justo ou mais adequado. Portanto, esse texto ainda não foi terminado. São apenas observações a respeito do que tem ocorrido ultimamente - não é diferente do que usualmente faço, mas neste caso, ainda está tudo tão em desenvolvimento que qualquer tentativa de capturar e aprisionar em palavras é maléfica... Eu tenho expectativas quanto ao paraíso. Obviamente nunca acreditei em nenhum, mas se o inferno pode ser irônico, por que o paraíso não pode ser atingido?

P.

sábado, 19 de novembro de 2011

Anônfalo

É estranho perder um ponto central e tão comum... ao menos ultimamente. Fazia tempo que não o sentia - cheguei mesmo a duvidar de sua presença - mas aos poucos, de uma maneira pouco provável mas muito esperada, um vínculo forte parece voltar a se formar de forma natural, sólida. A força de uma relação está em sua solidez (como suporta as crises) e na transparência (como se chega à resolução das mesmas). Quando somos transparentes, cativamos a confiança que confere tal resistência. Algumas pessoas só conseguem alimentar o amor com essa combinação, pois sabem que ela é a única que pode mantê-lo.

Eis o jeito de sentir-se bem.

P.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre a PM na USP

A questão não é se o tom da grama vizinha é mais atraente do que a doméstica. Na verdade é bastante difícil diferenciá-las, vejam bem: era um único grande terreno, desnudo e sem preparo prévio - mas no qual dois vizinhos resolveram apostar. Cada um segura sua parte da cerca, vira as costas e finge que a respectiva metade é um universo singular a ser formado diante de suas próprias perspectivas e sem a interferência do agora, ex-companheiro de negócio. Casa construída, padrões e rotinas estabelecidos.

Mas há algo de atraente na grama ao lado - processo mútuo, pois os dois parecem ser fascinados com o que se ocorre com o solo vizinho. Mais uma vez, não é o fato de superioridade em si - como o jargão popular tenta dizer. É apenas uma atração fofoqueira, que toma não apenas os olhos mas também a boca: superadas as amarras, é questão de tempo até a grama do vizinho se tornar mais importante do que a sua em todas as conversas.

Então vamos lá - toda a imprensa se concentra no caso que absurdamente toma proporções gigantescas em todo o país - os tais drogados que sugam os pais e o Estado para não fazerem nada além de fumar maconha e praticar atos criminosos. Sim, existe uma praga na grama vizinha, todos se concentrem e atirem umas latas vazias dentro da cerca. Foi possível ver pessoas que nem mesmo sabem o que a sigla FFLCH quer dizer protestando por ter seus "impostos" utilizados para a manutenção desses delinquentes - afinal de contas, a USP é mantida pelo país todo e não pelo estado de São Paulo, não é mesmo?

Primeiro ponto: taxar todos os alunos de lá como coniventes com os fatos passados - a invasão e o vandalismo ridículos à reitoria e etc é no mínimo injusto - o termo "coniventes" até pode ter seu uso discutido, uma vez que inegavelmente, eles não impediram a invasão. Mas esta é outra história. A FFLCH tem contribuição inegável para a USP e apoiar a ideia de sua separação com a Universidade é pífia - como representante das Humanidades, sua exclusão resultaria em uma Universidade enfraquecida. Há pessoas lá que realmente estudam, trabalham e se esforçam. E provavelmente é a maioria delas.

Quanto à verdadeira razão desse borburinho todo, a presença da PM dentro do campus, é necessária a filtragem da complexidade de ambos os lados - o que é deixado para trás quando se olha apenas para os argumentos de que "vamos acabar com a festa daqueles maconheiros" (afinal de contas, a PM não foi para lá com esse objetivo) ou então "a PM está lá como braço opressor do Estado que não admite o livre pensamento" (talvez filosoficamente correto, afinal todos sabemos o quão difícil é para alunos que nadam contra a onda ideológica das instituições em que estudam e por mais difícil ainda que seja admitir, "livre pensamento" é uma sentença irreal).

O que deve ser respondido não é se fumar maconha em universidades é correto ou não - a grama do vizinho é interessante, mas talvez nos esqueçamos que esta e as outras drogas são consumidas em todos os gramados de todas as universidades do país e de boa parte do mundo, nos cursos que perpassam as Humanas até as Exatas mais surreais. Ou se a permanência da PM diminui os problemas de violência comumente relatados lá. A pergunta chave é: por que eles estão lá. Ou vão dizer que em algum momento não passou pela cabeça de ninguém que iria acontecer o que houve? Que algum aluno fazendo algo ilegal (moralmente certo ou errado não faz diferença nessa questão, é ilegal e o papel da polícia é o de cumprir a lei) seria repreendido e geraria tudo isso? Era claro. Se a polícia foi uma medida de curto e médio prazo, como foi vinculado, como andam as outras de médio e as de longo prazo? Ou seria mais cômodo deixá-los por lá?

Voltando à questão do gramado: a sociedade se revolta com os alunos da USP pois a imprensa lhe disse que está pagando para manter alunos elitizados que só visam seus interesses próprios e agem fora da lei, como se estivessem acima dela. Mas a sociedade não se mobilizou quando mataram alunos lá dentro. O contra-argumento de que os alunos também não invadiram a reitoria no assassinato é válido. As pessoas só se sensibilizam quando acham que a grama ao lado é mais verde não pelo empenho daquele que a cultiva, mas sim por alguma falcatrua. Deixa de ser merecimento e passa a ser injustiça, o que é inaceitável.

O problema da reitoria, especialmente do reitor também é conhecido e ponto chave de toda discussão. Exigir a integração da Cidade Universitária com a cidade de São Paulo é bastante complicada. As pessoas dizem que mantêm a Universidade e não têm acesso a ela sem ter uma carteirinha ou um cartão. Mas também são as pessoas que mantêm o Judiciário, o Executivo, as autarquias e tantos outros, e em grande parte deles, não entram porque nem mesmo há uma carteirinha. Se tal mecanismo de "segurança" foi implantado, motivo teve. Imaginem os campus universitários totalmente abertos à população, do tamanho que possuem e com a "guarda universitária". Os alunos não aceitariam tal perigo. E com razão.

Basta de ter que ler a respeito da "democracia" do ensino. Nosso ensino universitário é meritocrático como em outras partes do mundo - sim, mais injusto, pois meritocrático em muitos casos no Brasil esconde "censitário", mas de qualquer forma, quem estuda em universidades públicas está lá por algum mérito próprio, independente de ter posição privilegiada ou não (os estudantes de universidades públicas conhecem os inúmeros casos de alunos que não possuem tal perfil e mesmo assim estão lá). Então os alunos e aqueles que compõem as universidade têm o direito de decidir suas diretrizes, desde que dentro da lei.

Quanto ao vandalismo, deve ser condenado até mesmo pelos que são contra a PM dentro do campus. Não é só o patrimônio público - é a imagem e a estrutura do lugar onde estudam e que representam para os outros. E por mais anarquista que se seja, isto deve ser respeitado e preservado. Quebrou, destruiu e depredou, paga. Medidas acadêmicas ou punitivas devem ser discutidas em pauta separada.
Que finalmente as pessoas consigam resolver cada questão e cada problema de uma determinada vez, buscando suas raízes verdadeiras. Se a polícia deve ou não ficar lá - para qualquer uma das respostas, deem o porquê de estar acontecendo e o que será feito para reparar a situação - isso se conseguirem admitir que a PM foi uma medida provisória. Se o consumo de drogas e de álcool dentro do campus será punido verdadeiramente - o que não precisa ser feito pela polícia que, além de quebrar uma tradição agora "confirmou" para si mesma a imagem de que lá dentro existem milhares de marginais - a situação dificilmente se normalizará.

Se haverá mais integração da USP com a população, democratização verdadeira de decisões cruciais... são todas questões que cercam o cerne do caso, mas que devem ser concluídas uma a uma. E por fim, que todos os vizinhos, públicos e privados, estaduais ou federais possam usar o caso para olhar para o próprio jardim e assim perceberem, que o que está ocorrendo não é exclusivo à Universidade de São Paulo. Em frente à tentativa de refutar, prática tão comum nas Humanas, a ideia do gramado do vizinho sob a perspectiva de que, no fundo, a grama é a mesma e a cerca apenas superficial e, portanto, um problema lá afeta aqui - o que justificaria o excessivo interesse pelo "alheio" - fica a defesa apoiada na mesma ideia: não somente o que afeta lá, afeta aqui; mas também, o que ocorre lá, ocorre aqui.

P.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Falha geoamorosa

É como uma grande ruptura. Um abismo em que você atira todas as verdades que sempre engoliu e contou por aí. Desabafar de alguma forma ajuda mas não resolve seus problemas. Também entram as vontades reprimidas aparentemente sem motivos – mesmo quando o problema estava apenas em você, por não conseguir enxergá-los – e cuja projeção cria heróis que o tempo mostra serem irreais.

A partir do momento em que qualquer relação afetiva é estabelecida com outra pessoa, tal abismo começa a existir. É o “outro lado” de uma moeda que pode ser confundido com anti-matéria, mas no fundo é apenas inevitável. Depende então, dos que comungam da relação, serem sinceros e francos consigo mesmos e mutuamente – todos os “deixa pra lá” que apenas encobrem um “não lhe perdoei” caem ruptura abaixo, alimentando-a e afastando falha após falha.

Torna-se uma questão de acontecimentos e de tempo; tal abismo já é tão grande que nem mesmo o pulo mais desesperado pode vencê-lo. As coisas simplesmente se rompem e você tem de escolher. Às vezes é possível designar algum culpado. Neste caso é bem fácil de se seguir em frente. Mas e quando nem mesmo a culpa sabe a quem agarrar?

Não deixem tal abismo crescer tanto a ponto de confundi-los. O que está feito está feito. E para algumas pessoas esta é uma verdade axiomática. Eu enfrentei diversas rupturas mas nenhuma é tão difícil quanto a de agora. Com relação à culpa, bem, foi abismo abaixo. Pedir perdão torna-se inútil, pois não há desculpa para a escolha de se seguir em frente e abandonar atrás de uma ruptura o que foi construído até então. Talvez realmente seja imperdoável, principalmente para aqueles que não costumam fazê-lo. Mas se serve de consolo, as rupturas irão acontecer independentemente de nossa vontade. E ninguém fica com a consciência pesada por perdoar alguém.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O lado frio da verdade

Sabem aquelas pessoas que não têm coragem de encarar a realidade? Uma vez conheci um cara tolo o suficiente para acreditar que poderia fazer tudo o que quisesse sem algum tipo de penalidade. Não considerava aquela ideia de destino punitivo, em pagar o que aqui havia sido feito; era simples desejar ter o que pudesse e, o que ainda não lhe pertencia, conseguir. Ele perguntava aos outros se era um problema ser tão expansivo e querer tudo para si. Moralmente não é. Mas toda espada possui sua bainha, e não importa o quão afiada seja, ela precisa de algo que possa pará-la.

O que parou sua tolice foi o erro de querer não somente tudo, mas todas. Mesmo mudando de cidades, de identidades e de passados, seu caráter continuava construindo as mesmas impressões - e após algumas muitas decepções, sempre se tornava tarde demais. A confiança perdida. Apaixonou-se uma, duas, três vezes em curto tempo. Assistiu às desconhecidas tornarem-se amigas e deixarem-no sozinho. E não importava quem ele tentasse usar para preencher o vazio, no fundo ele estava somente usando alguém... era apenas mais uma repetição dos outros erros.

Restou dizer a ele, que realmente as coisas que se faz não necessariamente serão pagas, mas quem sofreu tais coisas dificilmente irá esquecê-las... e quando se trata de mulheres, elas não irão esquecer. "Quem muitas quer, acaba sem ninguém".

P., encarando a realidade.
(Título do texto copiado da música de mesmo nome, da banda Envydust).

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Here comes the price...

Entre o olhar para a fechadura com ar de preguiça e para as chaves, com certa impaciência diante de tantas inúteis e nenhum sinal da correta, algo escorregou entre a porta do elavador e a de casa. De repente a fechadura concêntrica e recém trocada se desfez de sua forma sem graça e proveu-se de irritação. A chave não entrava e eu perdia hora.

Acabei entrando pela cozinha, naquela estratégica porta dos fundos - você chega lá, mas todos perguntam como você foi parar ali. As chaves já estavam na mesa, a mochila na primeira cadeira com espaço suficiente para manobra e o calcanhar esquerdo começava a ceder o tênis diante das investidas do outro pé. Tudo bem, tudo normal.

Lá estava ela - ironia de uma fase sem inspirações personificadas e repleta de imaginação - sentada. É melhor nem imaginar nesta parte específica. Por mais que algo ou, para os menos voluntariosos, o acaso se encarreguem de livrá-la de nossas rotinas, até mesmo os atalhos que pegamos nos levam a algum lugar - ora, qual utilidade teriam se não fossem direto ao final daquele caminho que havia sido impedido ou que não quisemos pagar o preço? Imbecil foi a pessoa que chamou "paciência" de faculdade menor de nossa maior, a "consciência". Esqueçam a razão... ela é apenas um estado de concordância de nossa consciência conosco. Só então, achamos ter razão. Ambas não têm a menor relação (paciência e consciência). Nossa consciência não espera.

Ela não disse nada. Consciente de que possui muito mais poder do que os que falam e não são ouvidos por nós. Ela apenas estava fazendo uma visita. "Olhe, eu continuo aqui, quando você vai me seguir?" Bem que ela poderia falar algo... Seria uma justificativa aos que pedem: "ouça sua consciência". Mas ainda sim, silêncio aos que acertadamente preferem: "siga sua conscîencia". Eu a ignorei ultimamente.

"Diga algo", penso. Nada. Eu simplesmente sei que balbuciar qualquer mentira será inútil. Não vou tentar enganá-la... Seria demais. Eu apenas peço paciência, para que não me perturbe até eu terminar estes caminhos. Mas ela não é paciente e faz com que eu me pergunte: tais caminhos são atalhos? Se sim, há um preço... Sempre existe um preço. O que sua consciência diria? Deve-se ou não pagá-lo?

P., cuja consciência não deixou ficar mais tempo longe do Sp/Pa Connection.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quando ainda não se tem a força

"Louvado seja o Deus de todos, bebam o vinho e deixem o mundo ser o mundo."

Respeitem as crenças de todos como se fossem suas. Divirtam-se pois onde não há o exercício do relaxamento e da abstração, existem brechas para o arrependimento e a exaustão futuros. Por fim, deixe o mundo continuar girando como sempre fez: as pessoas devem falar e fazer aquilo que querem sem interferência. Se estão se divertindo, apenas as respeitem.

O mundo sempre funcionou dessa forma, afinal de contas.

P., de férias e ainda tendo de cultuar a filosofia camponesa da França do século XVI.

domingo, 5 de junho de 2011

Base, altura e o 2

O que fazer quando as pessoas ao nosso redor começam a mudar?

Mudanças sempre são positivas no final das contas. Mas até o acerto dessas contas, há um longo e doloroso caminho. Disso entendem-se duas mudanças: a mudada e a que muda.

Filho, vamos mudar. De casa, de cidade, de estado. Filho, você vai mudar de país. Por duas semanas, por seis meses, por um ano. Pais, eu vou mudar de curso. Semestre que vem, ano que vem, amanhã.

Dizer mudada e muda é apassivar ou ativizar a mudança. Não pensem que a diferença é igual àquele caso na gramática, "do que sofre ou pratica a ação"; pois mudar fisicamente, de lugar, de condição ou de estado pode ser nossa decisão ou nossa opção. Decidir é diferente de optar. Decisões são tomadas, opções são feitas. Tomar é diferente de fazer pois indica que estamos de alguma forma, retirando algo de alguma coisa - o que é bem engraçado, pois se algum de vocês souber quem seria essa "alguma coisa", me digam - enquanto que ao fazer simplesmente se está produzindo algo de uma forma mais independente. As decisões por serem mais fortes, partem de nós. As escolhas nos são oferecidas. Escolhemos ou não.

Mas este post não é sobre as mudanças que mudam. Quantas vezes não mudamos sem nos darmos conta? Por intermédio de outros ficamos sabendo que não somos mais os mesmos atos, palavras e emoções. Seu melhor amigo de hoje se torna seu amigo que passa a ser seu colega e que talvez vire seu conhecido. Até que conhecer exija convivência e as mudanças são tantas que você conhece apenas o passado comum. Então resta apenas uma lembrança e algumas conversas sobre o passado. Mas seu presente são outros.

A ideia é triste e pode parecer não valer para alguns quando leem. A mim também já pareceu. Mas conforme o tempo passa nós mudamos essa repugnância. É perigoso mudarmos sem nenhum tipo de crítica. A velha história das companhias nos mudarem. Talvez nossa essência nunca mude, e vejam bem, já houve tanta mudança comigo que eu coloco dúvida na única coisa que sempre acreditei; mas também é arriscado dizer que nosso exterior apesar de artificial não possa sufocá-la. Quando se conhece uma essência por toda sua vida é difícil vê-la sendo sufocada.

Desculpem os leitores mais antigos, que provavelmente já leram esta passagem outra vez. Não que eu esteja vazio ao ponto de reutilizar ideias... mas quando certas coisas são belas é fundamental reciclá-las. A mudança nos permite ver mais beleza.

"Havia um triângulo equilátero perfeito. Mas para ele, seus três lados o deixavam muito pequeno. Com todas suas forças desejava ganhar um a mais e ser maior. Um dia então, o Deus da Matemática o abençoou com um lado extra. A partir desse momento, ele deixou de ser um triângulo e passou a ser um quadrado."

Em nossas vidas, não é o Deus dos homens (literalmente dos) ou da matemática que nos dá lados a mais. São as companhias que nos levam para novos lugares, que nos mudam de forma muda, silenciosa. Cabe a nós nos darmos conta disto. Sem maiores explicações sobre como mudar aquilo que se é destrói aquilo que as pessoas que gostam de você têm apego, deixo apenas a reflexão e a possibilidade de mudança.

Que mudar é sempre positivo, não há dúvidas... mas ninguém chega ao final das contas quando se tem de pensar em como mudar a mudança daqueles que amamos.

P., Ximbarraia = b.h/2

domingo, 29 de maio de 2011

Uns rabiscos de amor que algum dia eu escrevi...

Podemos oferecer muitas coisas às pessoas. A frase seria melhor escrita com o acréscimo de "muitas" também antes de "pessoas". De fato, existem muitas delas em nossa vida. Cada uma nos procura pois busca algo que oferecemos.
Às vezes não entendemos exatamente o que elas querem.
As pessoas são consumidores e nós, ofertantes.
Outras vezes nosso produto já não é mais tão atrativo, já que a concorrência oferece:
a) mais amor;
b) mais afeto;
c) mais beleza.

Nosso mercado, ao contrário dos mercados puramente econômicos, não se restringe. Não falimos, não quebramos (por fora) e nem precisamos mudar os produtos que oferecemos. O tempo faz o que sabe, passa; e no vazio da pessoa que outros levaram entra alguém. Bom seria se os mercados fossem todos assim - infalíveis a quebras. Se o seu tênis não agradou na China não se preocupe: os chineses sairão de lá e quem quer que seja que passe a morar ali vai simpatizar com seu produto. Talvez até pareça muito bonito mas se os consumidores não forçassem os fornecedores a se adaptarem a eles, como nós, ofertantes, também poderíamos consumir o que quiséssemos?

"Não há oferta sem procura". E esta procura não parte da relação:

OFERTA DO PRODUTO <=> PROCURA PELO PRODUTO

Parte de:

OFERTA DE UM PRODUTO <=> (...)
|
PROCURA POR OUTRO PRODUTO <=> (...)

Quando oferecemos, buscamos ao mesmo tempo. Buscamos aquilo que nós não temos em quantia satisfatória. Mas o engraçado do amor é o fato de oferecermos ele e buscarmos a mesma sensação! É como alguém que vende milho mas quer comprar milho. E ele não quer comprar menos do que vendeu, quer na mesma quantidade ou adquirir até mais! Não há balança favorável em muitas coisas que oferecemos. Esta é a beleza de nos apaixonarmos e a tristeza de termos que alterar o que oferecemos para não perdermos a pessoa que rejeitou o produto. Nós oferecemos milho mas temos que nos contentar com o algodão.


Acontece quando você cursa Economia e está apaixonado. Aqueles conceitos sem graça que ficam lhe dizendo junto com "é assim que as coisas funcionam, é desta forma que o mundo gira". Pois bem, se apaixone e você vai ver que nada disto funciona, como as outras coisas são quando se ama...

P., quando o problema não é arrumar novas consumidoras e sim mudar aquilo que se oferta.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Post interrompido

Este era um post como qualquer outro. Falava sobre cair duas, três, quatro, todas as últimas vezes no mesmo buraco. Sobre o erro de pensar que poderia dar certo agora, que talvez esta fosse a mulher certa e ir parar lá. Raios não caem duas vezes no mesmo lugar porque não pensam. Mas ainda sim os raios caem com força suficiente para interromper o que este post tratava.

Eu interrompo um post para que não se interrompa uma vida. As ideias de verdade não morrem. Elas vivem. Nós não morremos, deixamos de existir. Nossa existência por definição nos leva adiante por desejar, acima de qualquer outra coisa, continuar existindo. Não somos como as ideias, imortais. Somos como as meras pessoas, que podem tornar-se eternas. Porém, é preciso levar em consideração que nossa existência se relaciona com a dos outros, e não é possível interrompê-la por nosso desejo. Nosso desejo maior é continuar existindo. Não confunda existir de uma forma diferente com deixar de existir. Por favor.

http://www.youtube.com/watch?v=A7ry4cx6HfY

"Eu tenho tanto pra dizer, então, continue próximo".
P.

domingo, 8 de maio de 2011

Observação sobre preterir

O título do último post soou estranho, não? Quando escutamos "preferir" e "preterir" não há tanto estranhamento assim, são palavras comuns e ações pertinentes aos outros. Costumamos dizer "prefiro", pois esta é a essência de nossas atitudes: a preferência e a inclusão das coisas para nossa posse. "Eu pretiro" é incomum ao ponto de não sabermos o que significa - os outros podem preterir mas nós não.

Preterir ou preferir... e aí, o que vocês preferem?

domingo, 1 de maio de 2011

Eu pretiro

http://www.youtube.com/watch?v=g2VnIovHI1Y

Você vai crescendo e suas escolhas vão afastando as pessoas.
Na verdade, as pessoas vão se afastando conforme você cresce.
É velha a ideia de que escolhas lhe fazem abrir mão dos preteridos.
Mas crescer não é necessariamente uma escolha.
Não é justo que você tenha de abrir mão de pessoas necessárias.
Ambos parecem ser inevitáveis.
Crescer sem abrir mão.
Esses sim, vivem.
Não é preterir as pessoas.
Tampouco preferir a si mesmo.
É só optar pelo que acha certo.
Mas mesmo não fazendo a mínima ideia mais do que é certo, as pessoas estão indo embora.
Então pelo que estou optando?
Não é por viver.
Que o crescimento levará a algum lugar, é certo.
Mas quem estará nesse lugar?
Realmente... o lugar é o que menos importa. São as pessoas que estão lá que importam. Não vivam para ir a determinado lugar. O caminho que vocês tomam até ele não é viver. E ainda bem. Senão, a vida terminaria no momento da chegada.
Não se deixem levar...

P.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Calafrios

Você passou depressa pela rua... fazia tanto tempo que eu não lhe via...
As conjecturas estão até em meio aos sonhos. Coitado daquele que não consegue aquilo que quer nem mesmo quando pode conseguir qualquer coisa. Talvez eu não saiba o que quero. É uma questão. Triste.

Antes eu queria saber tudo. Então encontrei muitas pessoas que não me permitiam saber o que pensavam. Fui desistindo do que queria. Não tentem ir ao oposto, pois aqueles que fazem questão de que você saiba de tudo o que pensam, lhe impedem até mesmo de desistir.

E quando se perde a capacidade de saber até mesmo sobre si próprio?

Faculdade...

Não é uma capacidade, tem de ser uma faculdade. Não se deve possui-la momentaneamente e discriminadamente, deve-se usá-la sempre e como base por todos. É um problema. Grande.

Em cada cama, em cada cidade, em cada casa, deixamos um aquilo que somos. Se foi por ter fingido muito ou ter deitado-me tantas vezes, não sei. Mas as camas não estão mais ao meu alcance. Distantes ou afastadas, o efeito é o mesmo: o amor se foi e algumas transuentes falam sobre ele de vez em quando. Mas são apenas transeuntes. As cidades se confundem, e até mesmo as questões de antes deste blog, sobre mundos diferentes, não têm mais referencial: os sonhos não trazem mais conjectura alguma. Eles só trazem casas diferentes... que realmente não têm relação alguma com sonho algum.

Por hora, apenas ruas, passos rápidos de todos enquanto tento ver você de perto. Perto o suficiente para saber quem é você. De perto.

P., T., R., e K. Quem sabe de perto?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu do ato.

Perdida em meus atos. O que parece solução, logo se transforma em abismo. O que parece abismo, logo vira solução. Depois todos se invertem e se misturam. O que parece abismo vira abismo e solução. O que parece solução vira solução, solução e abismo. Abismo solução, solução. Abismo.

Talvez eu precise de um bom psicólogo. Mas e eles? Não precisam? Ora essa... Não me venham com antidepressivos, afinal de contas, eu sou minha depressão e nenhum remédio mudará isso. Eu sou a pessoa que escolhi ser ou a vida me fez essa pessoa que escolheu entrar no mundo. Mundo esse que poucos vivem. E é por isso que sou.

Ninguém poderá entender-me antes de mim. Preciso chegar primeiro, preciso tentar antes de qualquer outro vir aqui me falar do que sou quando não sou. Preciso tocar no molde central no meu ser que projetará o próximo ato antes de minha consciência ficar ciente disso. Preciso de mim. Preciso do ser, do eu, do vivo.

Doeu ser vivo. Dói ser a mim mesma criação do próximo ser que gerarei. Tenho a capacidade disso? Apesar de que sou humana e se Deus fez tudo isso como deveria ser não entendo porque continuo a me evolver com o sexo feminino quando deveria ser o oposto. Não gosto do oposto. Gosto, mas não gosto. Preciso de uma identificação. Algo que não vá me repelir. Algo que só nós mulheres conseguimos ter em comum. Esse ato de amor, o carnal e a alma sem rumo algum. Essa dor do ser viva mulher que precisa de um abrigo.

Estou mergulhada aqui, por enquanto. Logo mais abrirão a porta e não entenderei mais nada do que se passa em mim. Essas letras complicadas digitadas por dedos mais confiantes que eu. Parece tão simples aqui, apesar de complicado. Comparar com a vida lá fora é loucura. Prefiro ficar enrolada aqui. Grande dor. Espreme a humanidade para fora desta casca dura. Faz de mim mais confiante que os malditos dedos, por favor.

B.

sexta-feira, 18 de março de 2011

"O universo" por um chapéu

Deram-me um chapéu, tem umas semanas. Nunca tive um chapéu antes, não um de respeito ao menos. E olha que nesta afirmação entram aqueles clarinhos e pretos que nos empurravam sobre a cabeça nas apresentações infantis. Como este chapéu é diferente, eu gosto muito dele. Perguntaram se eu iria largá-lo algum dia, e abominei a ideia. O meu chapéu não. O universo de minha nova vida está pautado neste chapéu. Se algum dia eu jogá-lo fora, talvez minha vida tenha o mesmo rumo.

Com palavras simples deveria ser mais fácil explicar as coisas. Com ideias curtas, o mesmo objetivo. Mas as poucas palavras e a falta de ideias deixam tudo muito aderido, cabeça ao chapéu. Confundem-se em identidade e identificador; você pode não ser o que seu chapéu mostra, mas você é algo para quem seu chapéu mostra. O chapéu não é apenas respeitável e diferente, é interessante. Não se pode escondê-lo na mesma proporção que não se pode carregá-lo sem andar carregado de impressões. E coloque carregado nisso, porque não se pode olhar para cima enquanto se anda com ele. Olhe para baixo e abaixe a cabeça.

O chapéu não é dado como presente, tampouco como extensão do corpo. Vai na cabeça porque não se sabe em que lugar da identidade se pendura as coisas, não que ele esteja lá guardando as ideias. Mas ele fica bem onde fica. É um símbolo genial que lhe permite identificar muito sobre o que a pessoa é, ou está aparentando ser por alguns meses. Mas não é a você, digo, a mim, que ele deve identificar. Se eu identifico é porque talvez não tenha me identificado com ele, acho. Mas não sei, isto ficou meio confuso, sabem, aquela confusão assustadora que muitos estão passando agora. Aliás, eu não acho nada. Todos os mandamentos devem ser interpretados com humor, mas eis um que traz muita sobriedade: achar algo por aqui é seu pior erro, saiba.

Então você começa a jogar o chapéu para cima, e começa a colocar giro nele. Finalmente o chapéu cai. Agora o universo é explicado por um chapéu. Agora faz-se de tudo por ele. Troquei o universo por um dele. Se foi realmente o que queria, não sei. Neste caso só me resta achar... e eu sinceramente espero que não seja meu pior erro.

P.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Poesia sem poeta

Enquanto eu riscava o papel, ela perguntou se eu estava fazendo algum tipo de poesia. Sorri. Então esticando o braço, pediu para ler. Dei-lhe a folha e falei para que não se decepcionasse, pois ali não encontraria bem o que pretendia. Após alguns minutos, ela disse que havia sim poesia ali, embora não houvesse verso algum. Mas sim, definitivamente havia poesia. "Sem verso, não há poesia, apenas prosa comum". "Você se julga poeta e consegue dizer uma coisa dessas, que implica em não existir poesia no olhar, ou na natureza e coisas do tipo? Apenas onde há verso? Ora, poeta... Faz muito tempo que rima deixou de ser poesia e tenho certeza de que é o certo!".
E também faz muito tempo que poesia deixou de ser beleza. Nunca me considerei um poeta, creio que não disponho de habilidade e talento para tanto. Para expressar o que querem, os poetas usam de muitas coisas iguais e tão difíceis quanto. Eu não sei esconder a beleza. O verso esconde o raciocínio. Quem me dera ter essa destreza! Eu apenas enxergo a beleza das formas e busco sua essência. E as escrevo como são: com ritmo. A prosa com ritmo é perfeita pois é como nós pensamos. E são nossos pensamentos que dão esta beleza às coisas. Raciocínio é ritmo. Como gostaria de saber rimar a beleza!

"De qualquer forma, ficou muito bonito..."

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lei epigramática

É isso. Lá se foi o escalpo.
Em agosto de 2009, escrevi um post sobre o vestibular -http://sppaconnection.blogspot.com/2009/09/existem-misticismos-sensacionais-em.html - e nele apontei como fundamentais para, não somente aprovação em um curso, mas em questões muito mais amplas, a vontade e a estratégia. Nesta época, comecei a vislumbrar o quanto seria complicado o que estava por vir, mas resolvi aplicar aquilo em que acreditei como certo e apenas ficar com a natural preocupação sobre aonde eu iria. Quero dividir isso com vocês, detalhes que não compartilhei com ninguém e abro a todos aqui...

http://www.youtube.com/watch?v=Bp2Qc5_6RJo (Esta música passa a sensação de postes de iluminação sendo vistos pela janela de um carro à noite, não?)

Foi tremendamente complicado ter um ano de aulas em que muita coisa não se iria aproveitar, e pior, tendo grande parte do conteúdo que caíria nas provas fora das salas. Sobraram cerca de 60% do "Conteúdo Programático" a serem vistos solitariamente, no meu quarto com película totalmente negra, frio, café, temakis e pizza. E assim as semanas iam rolando, sempre trazendo as mesmas cenas, a falta de tempo de alguém que passava 12h por dia na escola, todos os dias, que tinha 3h de curso de Matemática aos sábados e que fora abençoado com "Botânica" aos domingos. De manhã. Não havia feriados que não fossem destinados ao curso, ou a finalmente, os estudos - tão difíceis em meio à rotina maluca. Hoje eu vejo que errei ao me concentrar demais em certos assuntos. A todo e qualquer momento você precisava lembrar e estar pronto para responder ou fazer qualquer coisa de qualquer assunto, e eu levava isso mais longe, era necessário ter tudo em minha cabeça, nas cores dos pincéis dos meus quadros e em explicações eficientes.

Quantas noites foram destruídas por questões que não conseguiam ser resolvidas. Eu dormia e elas ainda estavam lá. No meio de tanto azar que estava ainda por vir, eu tive extrema sorte em cair na sala mais sensacional de que já fiz parte, a belíssima CMH, raro exemplo de sintonia. E todo dia, sem nunca deixar isso de lado, eu corria os olhos naqueles quadrados vermelhos (coisas que ainda deveriam ser vistas, à parte para a FUVEST) cada vez maiores, mais complexos e abarrotados de coisas novas. Você sempre vai ouvir aquelas ironias de que as coisas não vão dar certo. Afinal de contas, mesmo eu sendo de São Paulo, fiz mais do que todo meu Ensino Médio em Belém, não fazia cursinho no 3º ano nem nada "específico" para a FUVEST. Todas as vezes em que você concentrar as ações em si mesmo, as pessoas irão duvidar. Engraçada é a crença das coisas pertencentes às maluquices que temos por aí.

E veio a primeira fase. Antes dela, muitos problemas. Operação às pressas para retirar dois sisos que haviam inflamado, cujo pós-operatório é muito dolorido e prejudica muito qualquer tentativa de estudos. Estudos esses que não poderiam parar, já que ainda faltavam partes gigantescas do programa para ver e umas sete leituras obrigatórias. Também houve atritos com pessoas que me magoaram muito. Mesmo sabendo que no meu caso, seria tranquilo passar para a segunda fase, era difícil conceber um desempenho mediano. Tive de ficar uma semana sem tomar remédios para alergia (devido à medicação da operação na boca), que desencadeou coceiras intermináveis. Dormir nem pensar. Chegou o dia da prova, e a desconfiança nos assuntos vistos em tão pouco tempo me fez ficar nervoso e ter um desempenho... mediano. Foi minha primeira prova de vestibular, e apesar de tudo, era uma FUVEST. Então eu tive cerca de vinte dias para me preparar melhor até a segunda fase. Natal e Réveillon em estudos. E despedidas da cidade que foi minha casa por 5 anos, das pessoas que foram minha vida neste período, e das que foram minha família por 17. Era muito difícil simplesmente não ter mais minha mãe comigo.

Primeiro dia da segunda fase - tudo transcorreu relativamente bem. Até a saída da prova, que foi regada a vômitos e febre. Uma virose misteriosa que me fez passar a noite no leito, acompanhando o pinga-pinga do cloreto e pensando "Então eu vivi 3.000 horas para isso?" Melhorei um pouco e fui fazer o segundo dia. Depois do vestibular, eu poderia dizer que dominava 95% do programa, ao menos. Os focos do segundo e terceiro dias, foram os 5% que faltavam. Chamar de azar, é piada. Caiu Complexos na prova específica. A matéria mais ridícula de toda a Matemática do Ensino Médio e a única que eu não lembrava nada, porque havia visto em fevereiro. Realmente quase tudo deu errado. Tudo aquilo que atormenta os alunos ao longo do ano - sim, realmente é isso, a ideia de pensar que está estudando tanto e algo pode simplesmente lhe impedir de realizar a prova - aconteceu. Apesar de tudo isso, eu consegui. Um 4º lugar não foi o que eu desejei, mas... está aí. Murphy, você perdeu para o Comediante. Concordo que tudo deu errado, mas eu consegui transformar tudo isso em piada. Esta é a lição que fica: façam o máximo, mesmo que o que desejem não peça tanto. Assim, não importa o que aconteça, vocês vão desconsiderar os desejos de "boa sorte" que receberem, e aceitarem apenas os de... SUCESSO.

P., cujo ano começa agora. Isto significa, posts, muitos posts.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Espírito livre

"A natureza não reconhece o Bem ou o Mal ou o bom e o ruim. Apenas o equilíbrio e o desequilíbrio, e todos seus esforços são para restaurar aquilo que foi tirado ou acrescentado em demasia em si mesma. A natureza, por definição, busca única e incansavelmente o equilíbrio."

O ano passado foi muito duro. Para todos nós. Li de alguns que 2011 precisa ser melhor, ouvi de outros que tem de ser tão bom quanto. Que neste ano todos nós consigamos parar de taxar as pessoas como boas ou más, nos colocando como vítimas das circunstâncias, de um destino ou de ações. O importante não é dar ouvidos àquela frase antiga e errônea, "Diga-me com quem andas que direi quem és", mas sim reconhecer que as coisas fluem para o equilíbrio, e a escolha de quem segue conosco é diferente da de quem nos segue neste fluxo.

P., com saudades de muitas coisas boas para mim.

Desculpem a espera por um novo post, mas a minha espera de certa forma me priva do tipo de prazer de escrever aqui. Logo acaba.