terça-feira, 24 de agosto de 2010

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A paisagem corria rápida enquanto eu me equilibrava sobre pernas cansadas e apertadas. Erguia os olhos para reclamar das duas, mas ao menos elas estavam no lugar certo, pensava - a constatação vinha com os braços erguidos em assalto, porém as mãos unidas e cerradas indicavam que eles que me sustentavam no lugar delas. Não era bem uma acomodação das melhores, era mais uma posição de sacrifício e de palavras deprimidas.

Alguns resmungos aqui e ali tiravam minha concentração das pressões sobre meu ombro, preferencialmente esquerdo, minhas coxas e meu peito. Com ou sem paisagens, essas regiões andavam sempre ocupadas, ora pela alça da mochila, pelo apoio para cadernos e folhas ou simplesmente pela angústia e cansaço. Às vezes, isso muda, é verdade, e apenas sua cabeça repousa em mim. Permaneço pressionado, no entanto, concentrado nas palavras que saem de seu nariz. E a sua respiração insiste em não acelerar... são apenas resmungos confusos que não vou conseguir entender, afinal de contas, estou esperando no lugar errado.

Tenho de dar uns passos para a direita, assim você fica mais confortável. Não importa se eu ande ou corra, para o lado ou atrás, você sempre fica à frente e imóvel. Ainda se gaba de não cair. Por mais que eu me sinta fraco, ainda estou em pé, esboçando alguns sorrisos sem vontade mas com todo meu coração. Todavia as pessoas preferem dar atenção às bobagens que passam na rua e às paisagens comuns e desinteressantes que suplantam as melhores coisas. Amar com os olhos ou sorrir com o coração são luxos que só existem em nossa cabeça mesmo. E a minha cabeça anda ocupada demais tentando distinguir se é só pelos livros, cadernos e mochila, ou se realmente eu tenho de descer daqui a pouco porque há uma pressão me empurrando para não parar de ir em frente. Eu vou acabar descendo minha cabeça... fico feliz de minhas mãos já estarem livres para deixá-la parada e sob controle, mas não mais imóvel. Minha parada chegou e lá vou eu.

P.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Post de aniversário!

YES! Agora é o P., muito feliz pelo Blog e pelo post da Bianca. Não importa muito o que eu gostaria de falar, tudo já foi mais do que bem dito - como sempre - por ela. Então não vou ser redundante, e só inteirar meus agradecimentos a todos vocês, que nos acompanham, mesmo sem nos conhecer ou tentando nos conhecer mais a fundo e acabam conhecendo mais a si mesmos aqui. É lindo demais ver que após 40 dias que colocamos o contador já temos 1000 visualizações e nos deixa pensando: imagine se ele estivesse aqui desde o primeiro dia.

Foi um ano absolutamente avassalador, a ponte entre dois anos bastante revolucionários - 2009 foi péssimo e 2010 deveras bizarro até agora, mas nós já sabíamos disso - e entre dois amigos cada vez mais distantes. O nosso intuito, na criação do Sp/Pa, era manter alguma espécie de laço entre nós dois, lembra, Bi? Aos poucos ele foi ganhando outra carinha, acumulando experiências, amores e sim, muitas dores. Sem contar as histórias que nós tentamos contar aqui, de nossa maneira própria e mudando essa maneira a cada post. E quando não tínhamos história pra contar, bem, nós inventávamos alguma.

O elo de dois amigos, amantes, parceiros, irmãos e livres de espírito engordou e englobou a todos vocês, leitores queridos. A conexão entre um Estado totalmente diferente de outro, que poderia ser distante e complicada, é a prova de que o menos importante é o tipo dessa conexão. Por textos pequenos e urbanos, profundos e amargos, tristes ou satíricos, não importa. Basta estar satisfeito com o que se faz para que dê certo. É isso que eu e a B. desejamos aos sppazeiros, que sempre estejam satisfeitos com o que fazem, porque só assim teremos força para seguir em frente e, após mais um ano dizermos: nós ainda estamos aqui. Porque nós queremos.

P., como um pai no aniversário de um aninho de seu filho. Com certeza os digitais são os melhores.

Post de aniversário!

É isso aí. Um ano de conexão São Paulo-Pará e o número suficiente de posts para te deixar contente. Ou deprimido, quem sabe. O importante é que fico muito feliz pelo falo do blog ainda estar de pé. Para falar a verdade eu nem sabia que o blog ia completar um ano, quem fez as contas, como sempre, foi o nosso amigo Pedro. Pra mim faz tanto tempo que esse blog existe -praticamente uma vida -, que até decidi dar uma trégua nesse dia e falar de maneira informal. Sem muita antítese, pleonasmo ou onomatopéia. Eu aposto que vocês nem lembram o que é isso. Pois é, e nem eu. Eu só sei que escrevo. Sei que amo fazer isso e só não faço quando me sinto na obrigação. Mas de qualquer forma, foi um ano de muita mudança pra todos nós. Aconteceram viagens de sol e de muito gelo. Tiveram muitas crises existenciais, discórdia e falso moralismo. E claro, todas as outras coisas boas que me soam muito maiores do que os problemas.

O mais importante de tudo é que ao longo desse ano ocorreram muitas mudanças no blog. Mudanças desde as mais superficiais, como as fotos, fontes e o background; até as mais importantes, como a nossa vivência, que assim foi modificando a nossa visão de mundo e obviamente interferindo e dando maturidade à nossa escrita. Fico muito grata a todos vocês, porque sei que de dez pessoas que leem o que está redigido aqui, pelo menos três ou quatro são leitores fixos, que estão sempre voltando atrás de novidade. Espero que nunca saiam desapontados dessa página, pois cada letra foi escolhida a dedo pra que possamos tornar a sua leitura mais agradável, e com certeza, a nossa também.

Eu queria muito poder concluir com um ’’Viva!’’ ao lado Pedro, mas infelizmente ele não está aqui comigo. Gosto de lembrar que esse um ano não foi só de blog, mas também foi mais um ano que me senti completamente feliz todas as vezes que estava ao lado do meu amigo. E depois disso, eu não tenho muito o que acrescentar além de: Feliz primeiro ano de blog! Obrigada por todas as pessoas que permaneceram ao meu lado e às que entraram na minha vida. Todos você acrescentaram coisas em mim e modificaram parte de pensamentos que aqui estiveram escritos. Obrigada aos nossos leitores, vocês são essenciais. Sejam sempre bem vindos, e um afago.

B.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escuta-me por favor, porque eu não sei falar...

Sempre que eu vou escutar seus problemas, acabo dizendo os meus. Você me inspira confiança em não precisar de ajuda ou de ouvidos, talvez até seja taciturna em esquecer suas dificuldades com as minhas ganhando som. Isso é muito bom quando não se quer conhecer alguém. Eu passei boa parte da minha vida tentando saber quem eu fui aos dois anos. Até hoje não sei nem ao menos quem vocês eram.

Cresci recebendo críticas e cobranças, que quando não estavam lá, eu me incumbia de realizá-las. Não conseguia abrir-me com as pessoas pois elas não tinham nada que eu precisasse, eram somente pessoas comuns com as mesmas palavras, e eu não precisava de um espelho embaçado... precisava de um simples abraço. Dói perceber o espelho embaçado em mim, sempre distorcido e refletindo coisas de uma maneira própria, que poucos entendem e ninguém consegue aproveitar.

Mesmo limpando ao máximo, ele continua trincado, e vai ser sempre assim... trincando cada vez mais, até quebrar novamente. E os moldes de base serão os mesmos, sabem? Nós erramos repetidas vezes o repetido erro. Não há como aprender se ninguém compreende que você não sabe só ensinar. É o que estou dizendo a todos vocês agora, que tento contar meus problemas através de metáforas e histórias que acabam refletindo o que sinto, mas no fundo todos enxergam de forma embaçada, e daqueles que eu preciso dos ouvidos, tenho emprestados palavras e um abraço - mútuo e que nos faz mergulhar em silêncio e lágrimas. Pelo menos agora eu sei quem sou aos dezessete.

P.