terça-feira, 24 de agosto de 2010

229

A paisagem corria rápida enquanto eu me equilibrava sobre pernas cansadas e apertadas. Erguia os olhos para reclamar das duas, mas ao menos elas estavam no lugar certo, pensava - a constatação vinha com os braços erguidos em assalto, porém as mãos unidas e cerradas indicavam que eles que me sustentavam no lugar delas. Não era bem uma acomodação das melhores, era mais uma posição de sacrifício e de palavras deprimidas.

Alguns resmungos aqui e ali tiravam minha concentração das pressões sobre meu ombro, preferencialmente esquerdo, minhas coxas e meu peito. Com ou sem paisagens, essas regiões andavam sempre ocupadas, ora pela alça da mochila, pelo apoio para cadernos e folhas ou simplesmente pela angústia e cansaço. Às vezes, isso muda, é verdade, e apenas sua cabeça repousa em mim. Permaneço pressionado, no entanto, concentrado nas palavras que saem de seu nariz. E a sua respiração insiste em não acelerar... são apenas resmungos confusos que não vou conseguir entender, afinal de contas, estou esperando no lugar errado.

Tenho de dar uns passos para a direita, assim você fica mais confortável. Não importa se eu ande ou corra, para o lado ou atrás, você sempre fica à frente e imóvel. Ainda se gaba de não cair. Por mais que eu me sinta fraco, ainda estou em pé, esboçando alguns sorrisos sem vontade mas com todo meu coração. Todavia as pessoas preferem dar atenção às bobagens que passam na rua e às paisagens comuns e desinteressantes que suplantam as melhores coisas. Amar com os olhos ou sorrir com o coração são luxos que só existem em nossa cabeça mesmo. E a minha cabeça anda ocupada demais tentando distinguir se é só pelos livros, cadernos e mochila, ou se realmente eu tenho de descer daqui a pouco porque há uma pressão me empurrando para não parar de ir em frente. Eu vou acabar descendo minha cabeça... fico feliz de minhas mãos já estarem livres para deixá-la parada e sob controle, mas não mais imóvel. Minha parada chegou e lá vou eu.

P.

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