sexta-feira, 18 de março de 2011

"O universo" por um chapéu

Deram-me um chapéu, tem umas semanas. Nunca tive um chapéu antes, não um de respeito ao menos. E olha que nesta afirmação entram aqueles clarinhos e pretos que nos empurravam sobre a cabeça nas apresentações infantis. Como este chapéu é diferente, eu gosto muito dele. Perguntaram se eu iria largá-lo algum dia, e abominei a ideia. O meu chapéu não. O universo de minha nova vida está pautado neste chapéu. Se algum dia eu jogá-lo fora, talvez minha vida tenha o mesmo rumo.

Com palavras simples deveria ser mais fácil explicar as coisas. Com ideias curtas, o mesmo objetivo. Mas as poucas palavras e a falta de ideias deixam tudo muito aderido, cabeça ao chapéu. Confundem-se em identidade e identificador; você pode não ser o que seu chapéu mostra, mas você é algo para quem seu chapéu mostra. O chapéu não é apenas respeitável e diferente, é interessante. Não se pode escondê-lo na mesma proporção que não se pode carregá-lo sem andar carregado de impressões. E coloque carregado nisso, porque não se pode olhar para cima enquanto se anda com ele. Olhe para baixo e abaixe a cabeça.

O chapéu não é dado como presente, tampouco como extensão do corpo. Vai na cabeça porque não se sabe em que lugar da identidade se pendura as coisas, não que ele esteja lá guardando as ideias. Mas ele fica bem onde fica. É um símbolo genial que lhe permite identificar muito sobre o que a pessoa é, ou está aparentando ser por alguns meses. Mas não é a você, digo, a mim, que ele deve identificar. Se eu identifico é porque talvez não tenha me identificado com ele, acho. Mas não sei, isto ficou meio confuso, sabem, aquela confusão assustadora que muitos estão passando agora. Aliás, eu não acho nada. Todos os mandamentos devem ser interpretados com humor, mas eis um que traz muita sobriedade: achar algo por aqui é seu pior erro, saiba.

Então você começa a jogar o chapéu para cima, e começa a colocar giro nele. Finalmente o chapéu cai. Agora o universo é explicado por um chapéu. Agora faz-se de tudo por ele. Troquei o universo por um dele. Se foi realmente o que queria, não sei. Neste caso só me resta achar... e eu sinceramente espero que não seja meu pior erro.

P.

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