sexta-feira, 30 de julho de 2010

O último post da Patagônia

Aqui um vídeo rápido (no estilo destas férias, pouco elaboradas e bem corridas) que retrata um dia de minha viagem, gravado e editado pelo pessoal da agência argentina. Agora são apenas lembranças, que estranhamente ainda nem doem como as do Vision, mas eu espero que em breve as coisas se acalmem e eu consiga enxergar tudo isso de fora...

Release da viagem.

P. em vídeo hoje.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lar doce lar

Desde que deixei a paisagem árida e gélida da Patagônia - com caminhos demorados de ônibus e orquestrados por "Alibi", do 30 Seconds to Mars - sinto-me mais vazio do que antes. Uma terrível sensação de quem não consegue mais fazer poesia. Parei de cantar algo que não seja "I fell apart"... mas eu sempre erro o "but got back up again". Ultimamente sigo apenas fazendo piadas em poucas linhas, com caracteres e sentimentos reduzidos. Meus olhos não têm encontrado um olhar há vários meses, e é muito difícil ter de evitar a sua sensação preferida.

Em breve estarei de volta à minha casa, que depois não será mais casa... lar então, estou longe de encontrar. Não fora de mim. Mas comigo. Começo a sentir falta de um lar com outra pessoa. De olhar não para olhos fechados e pálpebras se movimentando rápidas, mas para um olhar que retribua o que penso. Aberto e sincero.

P., curtindo os últimos momentos de férias inesquecíveis, mas que dentro de mim convivem margeando as mesmas ideias de passadas...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Conexão três.

Tempo 1.

Escrevi uma música para você no avião. Enquanto congelavas no frio do sul seu rosto estava fixado aqui, permanente e contente, enquanto o mundo mudava tanto. Eu fechei meus olhos e tentei ouvir aquilo de novo. Aquilo que jamais sairia da sua boca. Tentei sorrir como todas as outras vezes, com todos os dentes, como todas as outras mulheres. Tentei relembrar dos sonhos, das crianças brincando e das flores no jardim ao lado. Mas nada me veio além das nuvens flutuando em volta deste avião. Nada me parecia belo além da sua figura em meu caderno.

(...)

Tempo 2.

Uma vez coloquei minha cabeça para fora da sua janela e vi a crueldade do mundo lá fora. Talvez seja por isso que eu nunca quis ir embora. A sua casa era mais segura do que a minha. Sempre foi. O meu chão era lá. Até porque eu me sentia bem com as folhas do inverno. Me sentia bem com a sua mãe, com a sua irmã e com tudo seu que me rodeava. Me sentia bem com você afinal de contas, mesmo sem trocar muitas palavras.
Agora é verão e nossa cidade está pegando fogo. Eu queria sair daqui depressa e esperar tudo passar. Só que eu não quero ir embora e cuidar só de mim mesma. Eu não vou simplesmente voltar para casa. Você me conhece, eu faria qualquer coisa. Mas eu não vou posso ir até aí (avise a sua mãe), é muito improvável cuidar de você nessa estação.

(...)

Tempo 3.

Quem sabe da próxima vez. Quem sabe nessa, na próxima ou na última a gente consiga. Quem sabe eu pare com essa atitude doentia. Se Deus quiser você volta e me entende. Talvez você precise ir para poder voltar. Voltar pra mim como nunca tinha vindo. Terminar de vir como nunca havia chegado. Eu gostaria que seus olhos mostrassem menos do que eu vejo. Eu queria que na próxima você arrancasse e guardasse, ou largasse de vez o meu coração.

B.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A conquista de mim mesmo




Malas arrumadas e já sentindo saudades das nuvens de sangue e fogo da Patagônia.
Porque às vezes nós precisamos encontrar o caminho sozinhos. Aqui eu renovei este pensamento, meu espírito e minha saúde. As palavras ainda estão se alinhando em minha mente... está tudo rápido demais e eu não quero deixar de sentir meu corpo por enquanto.

Todos os novos caminhos saem de um novo deus.

P.

A Patagônia ainda em conquista

@
Sigo aqui em Bariloche e redondezas. A "ilha perdida", como eles chamam, está realmente lotada de brasileiros. A natureza deslumbrante, a neve e tudo mais, são muito conhecidas por todos nós e se encarregam de nos trazer à cidade nas férias. Mas o povo argentino tem algo interessante, e muito positivo. Quem tiver um pouco de boa vontade em acompanhar as palavras rápidas e o ponderamento deles, vai perceber a insatisfação com as mudanças que o país vem sofrendo. Estive aqui há exato um ano e meio, e realmente o panorama é outro. Reclamam do sucateamento dos serviços públicos, da mudança de interesses dos grandes investidores, do altíssimo preço da carne que é consumida aqui dentro - de pior qualidade e beirando os 50 pesos (!!). A carne vermelha faz parte da essência do povo argentino, como o feijão faz da nossa. E o que eles têm de positivo é a visão aberta sobre as coisas. Não fazem questão de tapar seus buracos para não se rebaixarem aos brasileiros.

Outra coisa é nosso "sim, e daí? Eles ainda têm educação pública e serviços médicos de graça, de qualidade, e nós nem temos isso. Eles que se danem, estão reclamando de barriga cheia, afinal de contas." o que infere outra coisa: em que situação nós estamos então, que não temos nada disto? Os brasileiros aqui e em todo lugar respondem que pelo menos não fomos massacrados na Copa. Grande.

Há cinco anos quando passei a enxergar os problemas de outro lugar, eu consegui ver os problemas do meu lugar. Confesso que com o final da Copa do Mundo (esta é a última vez que eu falo dela aqui) eu fiz um post e ia colocá-lo no blog, com o que nós realmente fazemos e dizemos, e simplesmente não paramos para pensar. Mas não o fiz. "As pessoas merecem ficar como estão", foi o que eu disse no texto do polvo. E realmente, para os dois sentidos: merecem conviver com seus problemas sem conseguir admiti-los e ficar estagnadas para não conhecerem outras culturas e tirar sarro daquilo que elas nem mesmo têm.


P., esperando que o espelho do lago congelado continue mostrando como as coisas são até sexta-feira...

terça-feira, 20 de julho de 2010

A conquista da Patagônia

Diário de viagem @ começo

Voos atrasados em São Paulo. Voos atrasados em Ezeiza e em Aeroparque.
Eis aí o resultado.


Buenos Aires fria, cinza e pouco receptiva. Parece que os aeroportos argentinos estão mergulhados em um caos de horários, como o do Brasil ano passado. Não sei se é só um problema da companhia que eu viajei, espero que não, é mais reconfortante imaginar muitas outras pessoas dormindo em pé.

Logo depois, finalmente, a primeira imagem da Patagônia. Amanhã, subir milhares de metros e esperar somente por fotos maravilhosas.

domingo, 18 de julho de 2010

Noite nordestina.

Aqui venta tanto que parece chuva. Quer dizer, venta tanto, é pior que chuva, parece que o quarto vai cair. Parece que vai desandar e descer esse penhasco. É como se a água do mar estivesse nos esperando lá em baixo, tão enraivada que sai quebrando muro. Tão apressada que vai descendo rua. Tão rebarbada que afoga gente. E eu aqui, tão assustada como nordestino quando realmente há chuva. Tão mal acostumada que vou encolhendo toda. O coqueiro então, mal se segura no chão. As raízes estão ficando tortas diante dos meus olhos. O assobio das portas vai me deixando ainda mais amedrontada. Fiquei tão recatada. Encolhi-me de novo. Mas foi um dia tão cansativo que não há tempo para pensar em medo. Digo boa noite, beijo e abraço. A noite nordestina sempre me foi de agrado. Tenho tido sonhos cobertos de ouro.

B.

sábado, 17 de julho de 2010

A conversa brasileira

Em um improvável show de samba, parei para notar características bastante próprias do brasileiro. É engraçado como eles parecem ficar conversando entre autores, cantores e figurões de estilos e raízes culturais próximos, como MPB, chorinho e etc. Esquisito, a primeira vista desnecessário. As letras também são um espelho fantástico de nosso país: os versos refletem a identidade de nosso povo - intercalando expressões simples, chulas e clichês populares com umas metáforas malucas e profundas. Por fim, é uma grande troca de ideias imaginada entre personas absolutamente diferentes. A mistura tão nossa e tão bem representada pelo estilo que, talvez não seja somente o mais nacional pois é nosso, mas sim por ser nós.

P., em um rápido diálogo com um estilo que ainda acha chato, mas que viu grande semelhança com ele próprio. Em todos os aspectos.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Polvanismo

Existem os tolos. Os adivinhadores por astros, fumaça e acaso. Também alguns palpiteiros, contadores de bravatas que arrumam números e teorias soníferas. As pessoas não merecem ouvir certas coisas, merecem ficar como estão, ao menos por enquanto. Então, no final de tudo, a Copa nos deu essa grande lição: o mundo para por um torneio de futebol e assiste e acredita em um polvo. O icônico de 2010, Paul.

P., nos tentáculos do polvo e entendendo como as pessoas conseguem acreditar em certas coisas, afinal de contas, ele nunca falha...


quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ignorância

http://www.youtube.com/watch?v=NvAuAc01sI8

Assim como isso foi pensado ouvindo essa música, gostaria que fosse lido da mesma maneira.

Percebo que deixei alguns detalhes passarem. Ontem fui à minha igreja. Ela estava escura e calma. Havia movimento em seu entorno, pessoas fazendo de tudo. Ninguém estava orando. O rio não passava energia alguma, nem a música, nem as companhias. Eu não ignorei, mas talvez tenha subestimado essas mudanças. As gotas que escorrem pelo vidro do carro têm o mesmo sentimento das que caem do chuveiro e esbarram no chão. Elas sempre foram absolutamente diferentes, com sentimentos distintos, mas agora elas são idênticas. Não é que as coisas parecem ter perdido a graça e tornado-se massantes, como os corações das pessoas que eu acredito. Uma crença que não acredita em nada... estava tudo errado desde o começo.

Mais um detalhe que eu deixei passar...

Eu ignorei alguns, é verdade, e talvez essa seja a razão desse problema com as outras coisas. Faltam-me bocas, mãos e pescoços. Palavras, ações e apoio. Eu realmente vou atrás delas e deles, mas parece que acabo ignorando o detalhe que elas já têm respostas, amor e companhia. O que esteve errado desde o começo foi a minha maneira de ser todos, mas não conseguir ser as pessoas que elas gostam. Simplesmente porque eu ignoro que possa existir alguém bom o suficiente para apenas ficar quieto e seguir.

Be quiet and fly, P.