Tempo 1.
Escrevi uma música para você no avião. Enquanto congelavas no frio do sul seu rosto estava fixado aqui, permanente e contente, enquanto o mundo mudava tanto. Eu fechei meus olhos e tentei ouvir aquilo de novo. Aquilo que jamais sairia da sua boca. Tentei sorrir como todas as outras vezes, com todos os dentes, como todas as outras mulheres. Tentei relembrar dos sonhos, das crianças brincando e das flores no jardim ao lado. Mas nada me veio além das nuvens flutuando em volta deste avião. Nada me parecia belo além da sua figura em meu caderno.
(...)
Tempo 2.
Uma vez coloquei minha cabeça para fora da sua janela e vi a crueldade do mundo lá fora. Talvez seja por isso que eu nunca quis ir embora. A sua casa era mais segura do que a minha. Sempre foi. O meu chão era lá. Até porque eu me sentia bem com as folhas do inverno. Me sentia bem com a sua mãe, com a sua irmã e com tudo seu que me rodeava. Me sentia bem com você afinal de contas, mesmo sem trocar muitas palavras.
Agora é verão e nossa cidade está pegando fogo. Eu queria sair daqui depressa e esperar tudo passar. Só que eu não quero ir embora e cuidar só de mim mesma. Eu não vou simplesmente voltar para casa. Você me conhece, eu faria qualquer coisa. Mas eu não vou posso ir até aí (avise a sua mãe), é muito improvável cuidar de você nessa estação.
(...)
Tempo 3.
Quem sabe da próxima vez. Quem sabe nessa, na próxima ou na última a gente consiga. Quem sabe eu pare com essa atitude doentia. Se Deus quiser você volta e me entende. Talvez você precise ir para poder voltar. Voltar pra mim como nunca tinha vindo. Terminar de vir como nunca havia chegado. Eu gostaria que seus olhos mostrassem menos do que eu vejo. Eu queria que na próxima você arrancasse e guardasse, ou largasse de vez o meu coração.
B.
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