segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Fugindo do assunto.

Sexta feira eu estava vendo TV com o meu irmão, como todos os dias, às 9 horas em ponto, e de repente, enlouquecendo de canal por canal, acabamos assistindo um programa no qual tinha uma garotada andando de skate. Como eu já havia tido minha fase de andar de skate, me lembrei dos ‘’velhos tempos’’ (porque não faz tanto tempo assim), e me deu uma vontade avassaladora de ajustar todo o meu skate novamente, ligar para todos aqueles pivetes que andavam comigo pelos cantos e botar pra quebrar, literalmente, porque aqui não é TV, não é verdade? Sim, nós caímos e nos machucamos... E eu, como a mais inexperiente, claro que me bato terrivelmente quando faço alguma coisa errada, e para ser totalmente transparente, também não sou como aquelas meninas psicodélicas da TV, que pegam o skate e saem dando mil manobras em qualquer relevo que há na rua. Se eu tiver a façanha de dar pelo menos cinco manobras, já é muito. Na verdade, nunca tentei de verdade, sou daquelas que desistem de si próprias quando não conseguem da primeira vez. Mas na minha opinião, o que vale é gostar de andar de skate mesmo sem saber fazer coisas incríveis em cima dele, o bom mesmo é sentir o vento nos cabelos, ficar em velocidade e suar muito, mesmo tendo um ventilador em nossos rostos... É ter aquela sensação boa de liberdade, de quebrar regras, mesmo que quebrar regras não tenha muito a ver com andar de skate. Mas a verdade é que a sociedade, não vou dizer hoje em dia, mas sempre, sempre reprimiu qualquer outro tipo de estilo de vida diferente do estilo que se julga ‘’normal’’, não que o skate seja o meu estilo de vida, mas o preconceito é uma coisa que me incomoda, porque não só os skatistas, mas como os punks por exemplo, os góticos, os homossexuais, os caras paz e amor que ficam na praça vendendo o seu artesanato... Sabe, a sociedade, não estou incluindo uma pessoa ao certo, nem você ou o nosso presidente, mas no geral mesmo, a maioria das pessoas não aceita, muitos ocasionalmente lançam olhares desgostosos, as discriminam e as julgam com palavras ufanas sem ao menos saber o que elas são, se elas protestam por algo, ou apenas gostam de viver do jeito delas, sem machucar ou impedir a vida de ninguém. É uma pena que poucos tenham vergonha e tentem melhorar essa sociedade hipócrita em que nós vivemos, e sou muito satisfeita de fazer parte pelo menos desses 20% que se importa, mesmo que eu seja só uma, eu sei que eu faço a diferença ou um dia vou fazer, e que de um em um se forma um milhão, e mais um batalhão.
É... Pelo visto eu fugi mesmo do assunto, mas, voltando ao meu dia-a-dia, o que aconteceu foi que domingo eu acabei ligando para um amigo meu e o convidei para andar de skate em algum lugar, mas ele não podia andar depois das seis, que era a hora que eu pretendia ir, então botei meu skate na mochila e fui pra casa de uma amiga para começar a fazer um trabalho (detalhe na mamãe furiosa me perguntando se ela tinha cara de idiota de acreditar que eu iria realmente fazer um trabalho com uma mochila nas costas, sem nada além de dinheiro, um alicate e um skate), mas eu fui, mesmo contra a vontade dela, (mas o que eu deixo de fazer afinal, mesmo que ela se oponha? Bah, besteira...) e quase não me encontro de tão escondida que era a favela onde ela morava. O tempo se passou e demorei tanto na casa dela (não conseguimos fazer nem um quinto do trabalho) que acabei nem convidando mais ninguém para andar de skate comigo, andei sozinha por uma área imensa em volta da piscina (que por sinal, aquilo não poderia ser dito como só mais uma casa, era uma verdadeira mansão, mas que ainda estava em reforma. Sim, uma mansão, no meio de uma favela, o que era muito interessante e altamente perigoso. A casa é assustadoramente linda, tão surreal para mim que nos meus olhos, parecia com uma daquelas casas bilionárias de The Sims, com um jardim maravilhoso que visava perfeitamente bem o contraste que fazia da favela, com céu laranja e a grama quando o sol já estava se pondo). Tá que não deu pra matar aquela saudade indescritível que eu tava sentindo, até porque é bem mais legal andar com os meus amigos do que sozinha, claro. Eles fazem sim todas aquelas coisas incríveis que a gente vê na TV, mas as quedas são muitos mais reais. Rimos de tudo, e com todos os erros acabamos aprendendo uns com os outros, mas mesmo sozinha, perdida na mansão, deu para aproveitar.
Talvez você até esteja pensando, ‘’Uma menina andando de skate? Com um monte de marmanjão pelas ruas de Belém? No mínimo ela é uma biscate que não cobra nada para ser comida e ainda se machucar andando de skate, ou ela é muito, muito macho. Ou então todos os amigos dela são idiotas, igual à ela, que seria uma grande poser empolgada segurando um skate.’’ Bom, não é bem assim. Eu não sou uma biscate, e por sinal, eles me respeitam muito e tem bastante carinho por mim. Mas também não sou uma menina com bolas no meio das pernas, eu sei me portar. Admito que me visto bem jogada, inclusive meus pais reclamam (mas do que eles não reclamam?), e não dou a mínima mesmo, me arrumo do jeito que me parecer melhor e mais confortável, e o que irá aparentar para outros que se dane. Uso camisetas, calças ou shortes, e claro, um tênis, mas não chego a ter um jeito masculino. E por falar em tênis, dificilmente me vêem calçando outra coisa, a não ser quando os calos já estão me matando. E não, meus amigos não são uns idiotas, sabem andar de skate perfeitamente bem, e andam já faz algum tempo. E não, eu não sou uma grande poser empolgada segurando um skate, sabe, é o estilo de vida deles, mas para mim, é só mais um esporte que eu pratico e gosto, e como mencionei lá em cima, não é preciso saber fazer coisas incríveis em cima de um skate, o que vale é gostar, e sentir o que ele te passa de bom.
Então, ano passado quando descobri que eles andavam também, me lembrei que eu ainda tinha o meu skate, que ganhei quando era da quinta série, que já estava velho, acabado e entocado no canto do meu quarto, mas pensei, por que não? Então eles me convidaram para andar, e ao longo do tempo fui trocando minhas peças velhas por melhores, mas como eu sou muito chata com essa coisa de gastar meu próprio dinheiro, fui pedindo deles o que eles podiam me dar, o que tinha de reserva em suas respectivas casas e, Meu Deus... Eu os suguei tanto que quase montei um skate novo, ganhei rodas, amortecedores e até um truck do pai do meu amigo, só o shape que foi eu mesma que comprei, economizando todas as manhãs com o dinheiro do lanche da escola, que eu fazia questão de pegar todos os dias algumas notas de cinco reais da bolsa da minha mãe (emagreci dois Kg só nessas duas semanas sem comer, o que não foi ruim), e por fim, ele ficou super bom de andar. Ele é bem bonito até, tem rodas amarelas, o truck é prata com amortecedores vermelhos e o shape dele é todo colorido, com o desenho de um menino psicopata, rodeado de abóboras com caras de psicopatas também.
Tá certo que uma menina não fica nem um pouco sexy, muito menos feminina em cima de um skate. Principalmente em volta de um bando de meninos, ela nunca é vista com bons olhos. Mas quem se importa? Bom, eu não me importo, e só quero viver e gargalhar do jeito que for necessário, sem a audácia de gente inescrupulosa.

B.

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